A partir do momento em que lê o Segundo Passo, a maioria dos novos em A.A. enfrenta um dilema, às vezes, bastante sério.
Quantas vezes os temos ouvido reclamar: “olhem o que vocês fizeram conosco. Convenceram-nos de que somos alcoólicos e que nossas vidas são ingovernáveis. Havendo nos reduzido a um estado de desespero absoluto, agora nos informam que somente um Poder Superior poderá resolver nossa obsessão. Alguns de nós recusam-se a acreditar em Deus, outros não conseguem acreditar e ainda outros acreditam na existência de Deus, mas de forma alguma confiam que Ele levará a cabo este milagre. Pois é, meteram-nos num beco sem saída, tudo bem, mas e agora, para onde vamos?”
“Viemos a acreditar”. Eu acreditava da boca para fora quando sentia vontade ou quando pensava que ficaria bem. Eu realmente não confiava em Deus. Não acreditava que Ele se preocupava comigo. Continuei tentando mudar as coisas que eu não podia mudar. Aos poucos, de má vontade, comecei a colocar tudo nas mãos Dele dizendo: “Você é onipotente, então tome conta disto”. Ele tomou. Comecei a ter respostas para os meus problemas mais profundos, algumas vezes nas horas mais inesperadas: dirigindo para o trabalho, comendo um lanche, ou quando estava quase adormecido. Percebi que eu não tinha pensado naquelas soluções – um Poder Superior a mim mesmo as estava dando.
Eu vim a acreditar.
Sempre fui fascinado com o estudo dos princípios científicos. Estava emocional e fisicamente distante das pessoas enquanto procurava o Conhecimento Absoluto. Deus e espiritualidade eram exercícios acadêmicos, sem significado. Era um moderno homem de ciência, o conhecimento era o meu Poder Superior. Colocando as equações na posição correta, a vida era apenas outro problema para resolver.
Mas meu ego interior estava morrendo pela solução proposta pelo meu homem exterior para os problemas da vida e a solução sempre foi o álcool. Apesar de minha inteligência, o álcool tornou-se meu poder superior. Foi através do amor incondicional que emana das pessoas de A .A. e das reuniões, que fui capaz de descartar o álcool como meu poder superior.
A grande lacuna estava preenchida. Não estava mais sozinho e separado da vida. Tinha encontrado um verdadeiro Poder Superior a mim mesmo, tinha encontrado o amor de Deus. Existe somente uma equação que realmente me importa agora: Deus está em A.A.
Tão convencido estava de que Deus tinha me abandonado que ao final tornei-me provocador, embora soubesse que não devia agir assim, e mergulhei numa bebedeira. Minha fé tornou-se amarga e não foi coincidência. Aqueles que já tiveram uma grande fé atingem o fundo com mais dificuldade.
Levou tempo para que minha fé reacendesse, mesmo tendo vindo para A.A. Estava intelectualmente agradecido por sobreviver a queda tão vertiginosa, mas meu coração sentia-se endurecido. Ainda assim, persisti com o programa de A.A.: as alternativas eram muito tristes! Continuei assistindo as reuniões e, aos poucos, minha fé foi ressurgindo.
Depois de anos satisfazendo a uma “desenfreada obstinação”, o Segundo Passo tornou-se para mim uma libertação gloriosa de ficar sozinho. Nada agora é mais doloroso ou intransponível na minha jornada. Alguém está sempre aqui para compartilhar comigo as cargas da vida. O Segundo Passo tornou-se uma forma de reforçar minha relação com Deus, e agora percebo que minha insanidade e meu ego estavam curiosamente ligados. Para livrar-me do anterior, devo entregar este a alguém com os ombros muito mais largos que os meus.
Mais tarde, de volta a A.A. e sentindo a dor de minhas feridas, aprendi que o Primeiro Passo é o único que pode ser praticado 100%. E que a única maneira para praticá-lo é aceitar esse Passo 100%. Desde então, já se passaram muitas 24 horas e não precisei praticar novamente o Primeiro Passo.
Sinto que o programa de A.A. é inspirado por Deus e que Deus está presente em todas as reuniões. Eu vejo, acredito, e vim a saber que A.A. funciona, porque permaneci sóbrio hoje. Voltei minha vida para A.A. e para Deus, indo a uma reunião de A.A. Se Deus está em meu coração e em tudo mais, então sou uma pequena parte de um todo e não sou único. Se Deus está no meu coração e me fala através de outras pessoas, então eu devo ser um canal de Deus para outras pessoas. Devo procurar fazer Sua vontade vivendo os princípios espirituais e minha recompensa será a sanidade e sobriedade emocional.
Mais tarde, de volta a A.A. e sentindo a dor de minhas feridas, aprendi que o Primeiro Passo é o único que pode ser praticado 100%. E que a única maneira para praticá-lo é aceitar esse Passo 100%. Desde então, já se passaram muitas 24 horas e não precisei praticar novamente o Primeiro Passo.
Minha última bebedeira deixou-me num hospital totalmente quebrado. Foi então que fui capaz de ver meu passado flutuar na minha frente. Percebi que por causa da bebida, tinha vivido todos os pesadelos que pudera haver imaginado. Minha própria teimosia e obsessão para beber levaram-me para um abismo escuro de alucinações, apagamentos e desespero. Finalmente vencido, pedi ajuda a Deus. Sua presença convenceu-me para que acreditasse. Minha obsessão pelo álcool foi tirada e minha paranóia foi suspensa. Não estou mais com medo. Sei que minha vida é saudável e sã.
Foram as mudanças que vi nas novas pessoas que vieram para a Irmandade que me ajudaram a perder o medo e mudaram minha atitude negativa em positiva. Podia ver o amor em seus olhos e estava impressionado pelo muito que a sobriedade “Um dia de cada vez” significava para eles. Eles olharam honestamente para o Segundo Passo e vieram a acreditar que um Poder superior a eles, iria restituí-los à sanidade. Isto fez com que eu tivesse fé na Irmandade e esperança que funcionaria também para mim. Descobri que Deus era um Deus amoroso, não aquele Deus punidor que eu temia antes de chegar em A.A.. Descobri que Ele tinha estado comigo durante todas aquelas horas em que eu estava com problemas antes de vir para A.A.
Hoje sei que foi Ele quem me levou para A.A. e que eu sou um milagre.
Antes de começar minha recuperação do alcoolismo, o riso era um dos mais dolorosos sons que conhecia. Eu nunca ria e sentia que se alguém mais risse, era de mim! Minha autopiedade negava-me o mais simples dos prazeres, ou a leveza do coração. No final do meu alcoolismo, nem mesmo o álcool provocava em mim uma risada de bêbado.
Quando meu padrinho em A.A. começou a rir e a mostrar a minha autopiedade e enganos alimentados pelo ego, fiquei aborrecido e magoado, mas ele ensinou-me a aliviar-me e a focalizar a minha recuperação. Logo aprendi a rir de mim mesmo e, eventualmente, ensinar os meus afilhados a rir também. Todo dia peço a Deus para ajudar-me a parar de me levar muito a sério.
Nunca fui conhecido pela minha paciência. Quantas vezes me perguntei: “Por que esperar, se posso ter tudo agora?” Em verdade, quando me apresentaram os Doze Passos, pela primeira vez, me sentia como um “garoto numa loja de doces”. Não podia esperar para ir até o Décimo Segundo Passo: pois com certeza era apenas trabalho para alguns meses, ou assim eu pensava! Percebo agora que viver os Doze Passos de A.A. é um empreendimento para toda a vida.
Ninguém era maior que eu, ao menos aos meus olhos, quando eu bebia. Todavia, não podia sorrir para mim no espelho, assim é que cheguei em A.A. onde, com outros, ouvi falar de um Poder Superior. Não podia aceitar o conceito de um Poder Superior, porque acreditava que Deus era cruel e sem amor. Em desespero escolhi uma mesa, uma árvore, depois meu Grupo de A.A. como meu Poder Superior. O tempo passou, minha vida melhorou e comecei a pensar sobre este Poder Superior. Pouco a pouco, com paciência, humildade e muitas perguntas, comecei a acreditar em Deus.
Agora meu relacionamento com meu Poder Superior me dá a força para viver uma vida sóbria e feliz.
(Fonte: Reflexões Diárias – paginas: 40-42-43-44-45-46-56-59-73-175)
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