A prática do Terceiro Passo é como abrir uma porta que até então parecia estar fechada à chave. Tudo de que precisamos é a chave e a decisão de abrir a porta. Há apenas uma chave, e se chama boa-vontade. Olhando-se através dela, ver-se-á um caminho ao lado do qual há uma inscrição que diz: “Eis o caminho em direção àquela fé que realmente funciona.”
Nos primeiros dois passos, refletimos. Vimos que éramos impotentes perante o álcool, mas também percebemos que alguma espécie de fé, mesmo que fosse somente em A.A., estava ao alcance de qualquer um.
Essas conclusões não requereram ação; requereram apenas aceitação.
Como todos os outros, o Terceiro Passo pede uma ação positiva, pois é somente através de ação que conseguimos interromper a vontade própria que sempre impediu a entrada de Deus – ou, se preferir, de um Poder Superior – em nossas vidas. A fé é necessária certamente, porém a fé isolada pode resultar em nada. Podemos ter fé, mas manter Deus fora de nossas vidas. Portanto, o nosso problema agora é descobrir como e por quais meios específicos, poderemos deixá-Lo entrar. O Terceiro Passo representa nossa primeira tentativa de alcançar isso. Aliás, a eficácia de todo programa de A.A. dependerá de quão bem e sinceramente tenhamos tentado chegar à decisão de “entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos”
Para o recém-chegado possuidor d e espírito prático este passo parece difícil ou impossível. A experiência de membros mais antigos mostra aos novos que isso pode ser simples: requer apenas um pouco de boa vontade. Às vezes podem ocorrer recuos na prática deste passo por causa do egoísmo, mas a boa vontade permite a retomada da entrega que este passo propõe.
Para alguns alcoólicos pode surgir certa revolta: não basta entregar a vida a Deus em relação ao álcool, mas ainda será preciso entregá-la em relação a todos outros aspectos também? Estas pessoas gostariam de poder manter independência em alguns setores da sua vida. Acreditam que se tornarão nulidades se tiverem que fazer uma entrega total. A realidade, no entanto, mostra que quanto maior a disposição a depender de um Poder Superior, maior será a independência.
Examinando fatos da vida cotidiana, percebe-se que em muitos aspectos existe uma grande dependência, mas não há consciência disso. A eletricidade é um exemplo: depende-se dela e ninguém deseja dela ser privado. É uma dependência que proporciona independência, suprindo necessidades diversas.
Porém, quando se trata de dependência mental e emocional tudo muda. Acredita-se que a inteligência, com apoio da força de vontade, consegue muito bem controlar a vida interior, e garantir o êxito no mundo em que se vive. Procurando verificar se esta filosofia funciona, percebe-se que mesmo pessoas normais, não alcoólicos, obtêm bons resultados vivendo desta maneira. O ódio e o medo invadem a sociedade que pensa desta forma. Neste sentido, os alcoólicos podem se considerar afortunados pelo programa dos Doze Passos. A palavra “dependência” é repugnante não apenas para os alcoólicos, mas também para os psiquiatras e psicólogos. Ocorre que existem diferentes formas de dependência. Por exemplo, filhos adultos dependendo emocionalmente dos pais não é um tipo de dependência desejável. “Mas, a dependência de um grupo de A.A. ou de um Poder superior jamais produziu qualquer efeito pernicioso” (Os Doze Passos, p. 28-29).
Inúmeros outros problemas além do álcool se apresentam, e não são solucionados apesar de todos os esforços e coragem. Levam o alcoólico a se sentir inseguro e infeliz, e sua vontade, por mais determinada que seja, não traz soluções. Neste momento é que se torna necessário depender de Alguém ou Alguma Coisa.
Inicialmente este “alguém” poderá ser um amigo próximo do grupo, que ajudará o alcoólico a perceber que, na ausência do álcool, os problemas se tornam mais agudos. Virá também a saber que a prática constante deste e dos demais passos é que permitirá uma vida feliz e útil, e ainda, que esta só será possível após conseguir viver o Terceiro Passo com persistência e determinação.
A aceitação destas idéias facilita o inicio da prática deste passo,e, quando momentos difíceis surgirem, a Oração da Serenidade traz conforto: “Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar; coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras. Seja feita a Vossa vontade e não a minha” (Os Doze Passos, p. 31).
A boa vontade para entregar o meu orgulho e minha obstinação a um Poder Superior a mim mesmo, provou ser o único ingrediente necessário para resolver meus problemas hoje. Até mesmo pequenas doses de boa vontade, se sincera, é suficiente para permitir que Deus entre e tome controle sobre qualquer problema, dor ou obsessão. Meu nível de bem-estar está em relação direta com o grau de boa vontade que tenho num determinado momento para abandonar minha vontade própria e permitir que a vontade de Deus se manifeste em minha vida. Com a chave da boa vontade, minhas preocupações e medos são poderosamente transformados em serenidade.
Submissão a Deus foi o primeiro passo para minha recuperação. Acredito que nossa Irmandade procura uma abertura espiritual para uma nova afinidade com Deus. Quando me esforço para seguir o caminho dos Passos, sinto uma liberdade que me dá a habilidade de pensar por mim mesmo. Minha adicção me aprisionou sem qualquer liberdade e atrapalhou minha habilidade de libertar-me do meu próprio confinamento; mas A.A. me garante uma maneira de ir para frente. O compartilhar mútuo, a preocupação e o cuidado são a nossa dádiva natural de um para com o outro, e a minha dádiva é fortalecida à medida em que muda minha atitude em relação a Deus. Aprendo a submeter-me à vontade de Deus em minha vida, a ter dignidade e a manter sempre estas atitudes, dando sempre o que recebo.
Não importa quanto alguém deseja tentar, precisamente como pôde alguém entregar sua vontade e sua vida aos cuidados do Deus que ele pensa existir? Na minha procura por uma resposta a esta questão, tornei-me consciente da sabedoria com que o Passo foi escrito: que este é um Passo em duas partes.
Podia ver que em meus dias de bebedeira, houve ocasiões em que deveria ter morrido, ou ao menos ser machucado mas isto nunca aconteceu. Alguém ou alguma coisa estava olhando por mim. Escolhi acreditar que minha vida sempre esteve sob os cuidados de Deus. Somente Ele controla o número de dias que me serão concedidos até a morte física.
O assunto da vontade (vontade própria ou vontade de Deus) é a parte mais difícil que existe no Passo para mim. Somente após experimentar emocionalmente uma imensa dor pela tentativas fracassadas de me firmar, é que posso estar pronto para entregar a minha vida à vontade de Deus. Rendição é como a calmaria após a tempestade. Quando minha vontade está conforme a vontade de Deus, existe paz dentro de mim.
Tudo que preciso fazer é olhar para o meu passado, para ver onde minha vontade própria está me levando. Apenas não sei o que é melhor para mim e acredito que meu Poder Superior sabe. Deus, que defino como uma Direção bem ordenada, nunca me deixou cair, mas eu me deixei cair muitas vezes. Usar minha vontade própria numa situação, normalmente tem o mesmo resultado que colocar a peça errada num quebra-cabeças: cansaço e frustração. O Terceiro Passo abre a porta para o restante do programa. Quando peço a Deus que me guie, sei que, seja qual for o resultado, será o melhor possível, as coisas são exatamente como deveriam ser, mesmo não sendo como eu esperava que fossem. Se eu deixar, Deus faz por mim o que eu não posso fazer por mim mesmo.
Todo dia peço a Deus para acender dentro de mim o fogo de Seu amor para que esse amor, brilhante e claro, ilumine meu pensamento e me permita fazer Sua vontade da melhor forma. Durante o dia, quando circunstâncias exteriores deprimem o meu espírito, peço a Deus que grave em minha mente a consciência de que posso começar o meu dia da maneira que escolher; centenas de vezes, se necessário.
A pedra angular é a peça cunhada na parte mais alta de um arco que prende as outras peças no lugar. As “outras peças” são os Passos Um, Dois e quatro até o Décimo Segundo.
Neste sentido isto soa como se o Terceiro Passo fosse o Passo mais importante, que os outros onze dependem do Terceiro para suporte. Na realidade, porém, o Terceiro Passo é apenas um dos doze. Ele é a pedra angular, mas sem as outras onze pedras para construir a base e os lados, com ou sem a pedra angular, simplesmente não haverá arco. Através do Trabalho diário de todos os Doze Passos, encontro este arco do triunfo esperando que eu passe através dele para outro dia de liberdade.
Como um homem cego recuperando gradualmente a visão, lentamente tateei o meu caminho no Terceiro Passo. Percebendo que somente um Poder Superior a mim mesmo poderia me socorrer do abismo sem esperança onde eu estava, soube que este era um Poder em que eu tinha que me agarrar e que seria minha âncora no meio de um mar de desgraças. Muito embora minha fé naquela hora fosse minúscula, foi grande o bastante para me fazer ver que era hora de me livrar de minha confiança no meu orgulhoso ego, e colocá-la na fortaleza segura que somente pode vir de um Poder muito Superior a mim mesmo.
(Fonte: Reflexões Diárias: paginas: 75-76-77-79-80-82-83)
Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil – JUNAAB
Rua Padre Antônio de Sá, 116 Tatuapé São Paulo – SP – CEP 03066-010
aa@aa.org.br
Segunda a Sexta – 08:00 às 17:30
+55 (11) 3229 – 3611