“Este é o passo que separa os adultos das crianças…”.
Eis o que declara um clérigo muito querido que, por sinal, é um dos melhores amigos de A.A. Ele prossegue para explicar que qualquer pessoa capaz de ter suficiente boa vontade e honestidade para, repetidamente, experimentar o Sexto Passo com respeito a todos seus defeitos – em absoluto sem qualquer reserva – tem realmente andado um bom pedaço no campo espiritual e, portanto, merece ser chamado de um homem que está sinceramente empenhado em crescer à imagem e semelhança do Criador.
Evidentemente, a tão discutida pergunta sobre se Deus pode – e quer, sob certas condições – remover os defeitos de caráter, será respondida afirmativamente pela quase totalidade dos membros de A.A. Para eles, essa proposição não será apenas teoria; será simplesmente uma das maiores realidades de suas vidas. Geralmente oferecerão suas provas em afirmações como esta: “É claro, estava vencido, completamente derrotado. Minha própria força de vontade simplesmente não funcionava no caso do álcool. Mudanças de ambiente, os melhores esforços de parentes, amigos, médicos e clérigos nada adiantaram no caso do meu alcoolismo. Simplesmente não conseguia parar de beber, e nenhum ser humano parecia ter a capacidade de me ajudar. Porém, quando me dispus a colocar a casa em ordem e roguei a um Poder Superior, Deus, como eu O concebia, que me libertasse, então, minha obsessão para o beber sumiu. Simplesmente foi arrancada de mim”.
A reflexão prossegue esclarecendo que nascemos com desejos naturais em abundância. Não poucas vezes, excedemo-nos na busca de saciar tais desejos, afastando-nos ”… do grau de perfeição que Deus deseja para nós aqui na terra.
Esta é a medida de nossos defeitos de caráter ou, se preferirmos, de nossos pecados” (Os Doze Passos, p. 55). Deus certamente não nega o perdão para aqueles que o pedem, mas é preciso que se coopere na continuidade da edificação do caráter. Algumas imperfeições podem ser eliminadas, mas, “… com a maioria teremos que nos contentar com o melhorar paulatinamente” (Os Doze Passos, p. 55).
Necessário se faz reconhecer que alguns defeitos se prestam para regozijo: sentir-se um pouco superior ao outro; falar em amor para poder esconder a lascívia. Outras imperfeições também são analisadas, como o rancor, gula, inveja, preguiça. Como não são muito prejudiciais, poucas pessoas têm disposição para delas abdicar.
Outras pessoas podem acreditar que estão preparadas para permitir a remoção de todos os seus defeitos. No entanto, em levantamento das imperfeições menos acentuadas, teriam que admitir que prefeririam manter algumas delas. São poucas as pessoas, ao que parece, que têm prontidão para buscar rápida e facilmente a perfeição espiritual e moral.
A aceitação de todas as implicações do sexto passo é uma meta a ser perseguida. Não é possível praticar com perfeição este e os demais passos, com exceção do primeiro. O importante é começar e persistir. O que se sugere é manter a disposição para iniciar e persistir na busca pela perfeição.
Um alerta é feito para não postergar por prazo indefinido a lida com algumas das imperfeições: várias delas devem ser enfrentadas e requerem medidas para o quanto antes serem removidas.
Quando fiz meu Quinto Passo, tornei-me consciente de que todos os meus defeitos de caráter se originavam da minha necessidade de me sentir seguro e amado. Usar somente a minha vontade para trabalhar com meus defeitos e resolver o meu problema eu já havia tentado obsessivamente. No Sexto Passo aumentei a ação que tomei nos três primeiros Passos – meditando no Passo, dizendo-o várias vezes, indo às reuniões, seguindo as sugestões de meu padrinho, lendo e procurando dentro de mim mesmo. Durante os três primeiros anos de sobriedade tinha medo de entrar num elevador sozinho. Um dia decidi que tinha de enfrentar este medo. Pedi ajuda a Deus, entrei no elevador e ali no canto estava uma senhora chorando. Ela disse que desde que seu marido havia morrido ela tinha um medo mortal de elevadores. Esqueci meu medo e a confortei. Esta experiência espiritual ajudou-me a ver como a boa vontade era a chave para trabalhar o resto dos Doze Passos para a recuperação. Deus ajuda aqueles que se ajudam.
O Quarto e Quinto Passos são difíceis, mas de grande valor. Agora estava parado no Sexto Passo e, em desespero, pequei o Livro Grande e li esta passagem. Estava fora, rezando por vontade própria, quando levantei meus olhos e vi um grande pássaro subindo para o céu. Eu o observei subitamente entregar-se às poderosas correntes de ar das montanhas. Levado pelo vento, mergulhando e elevando-se, o pássaro fez coisas aparentemente impossíveis. Foi um exemplo inspirador de uma criatura “soltando-se” para um poder maior que ela própria. Percebi que se o pássaro “retomasse seus controles” e tentasse voar com menos confiança, apenas com sua força, poderia estragar o seu aparente voo livre. Esta percepção me deu disposição para rezar a Oração do Sétimo Passo.
Nem sempre é fácil conhecer a vontade de Deus. Devo procurar e estar pronto para aproveitar as correntes de ar, pois é aí que a oração e a meditação ajudam. Porque por mim mesmo eu não sou nada, peço a Deus que me conceda o conhecimento de sua vontade, força e coragem para transmiti-la hoje.
Estamos agora prontos para que Deus retire de nós todas as coisas que já admitimos serem censuráveis?
O Sexto Passo é o último de “preparação”. Embora já tenha usado a oração extensivamente, ainda não fiz nenhum pedido formal ao meu Poder Superior nos primeiros Seis Passos. Identifiquei meu problema, vim a acreditar que havia uma solução, tomei a decisão de procurar esta solução, e “limpei a casa”. Agora me pergunto: estou disposto a viver uma vida de sobriedade, de mudança, de me libertar do meu velho ego? Preciso determinar se estou realmente pronto para mudar. Revejo o que tenho feito e estou disposto a que Deus remova todos os meus defeitos de caráter, para que, no próximo Passo, eu diga ao meu Criador que estou disposto e peça ajuda. “Se ainda nos apegarmos a algo que não queremos soltar, peçamos a Deus que nos dê a vontade de fazê-lo.
Estou inteiramente pronto a deixar que Deus remova estes defeitos de caráter? Reconheço que não tenho condições de salvar a mim mesmo? Vim a crer que não posso. Se sou incapaz, se minhas melhores intenções dão errado, se meus desejos têm uma motivação egoística e se meu conhecimento e minha vontade são limitados – então estou pronto a admitir a vontade de Deus em minha vida.
Ao fazer o Sexto Passo, lembrei que estou lutando por alcançar um “progresso espiritual”. Alguns de meus defeitos de caráter ficarão comigo pelo resto de minha vida, mas muitos foram suavizados ou eliminados. Tudo que o Sexto Passo pede de mim é que me torne disposto a nomear meus defeitos, reconhecer que são meus e estar disposto a me livrar daqueles que puder, só por hoje. Quando cresço no programa, muitos dos meus defeitos tornam-se mais censuráveis para mim que anteriormente, portanto, preciso repetir o Sexto Passo para que possa ser mais feliz comigo mesmo e manter minha sobriedade.
Aqui é onde nasce a esperança a longo prazo e se ganha a perspectiva da natureza de minha doença e do caminho de minha recuperação. A beleza de A.A. repousa em saber que minha vida, com a ajuda de Deus, vai melhorar. A caminhada em A.A. torna-se mais rica, o entendimento se transforma em verdade, os sonhos tornam-se realidade – e o hoje é para sempre.
Quando caminho para a luz de A.A., meu coração fica pleno da presença de Deus.
Quando rezava, costumava omitir muitas coisas que eu precisava que fossem perdoadas. Pensava que se não falasse dessas coisas para Deus, Ele nunca ficaria sabendo sobre elas.
Não sabia que se eu tivesse me perdoado por algumas das minhas ações passadas, Deus me perdoaria também. Sempre fui instruído a me preparar para a jornada da vida, nunca percebendo até chegar em A.A. que a própria vida é a jornada – quando então honestamente tornei-me disposto a aprender a perdoar e a ser perdoado. A jornada da vida é algo muito feliz, desde que eu esteja disposto a aceitar uma mudança de vida e responsabilidade.
Às vezes não percebo que fiz fofoca de alguém, até que chega o fim do dia, quando faço um inventário das atividades, e então minhas fofocas aparecem como uma mancha num dia maravilhoso. Como pude ter dito uma coisa como essa?
A fofoca mostra a sua feia cabeça durante um café ou um lanche com os sócios de negócios, ou posso fofocar à noite, quando estou cansado das atividades do dia e me sinto justificado em reforçar meu ego às custas de alguém.
Defeitos de caráter como a fofoca se introduzem em minha vida quando não estou fazendo um esforço constante para praticar os Doze Passos. Preciso lembrar a mim mesmo que minha unicidade é a bênção de meu ser, e que isso se aplica igualmente a qualquer um que cruze meu caminho. Hoje, o único inventário que preciso fazer é o meu. Deixo o julgamento dos outros para o Juízo Final – a Divina Providência.
(Fonte: Reflexões Diárias – paginas: 138-163-164-165-166-167-185-297)
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