A chave da boa vontade

“A fechadura deve ser mergulhada no mais puro amor e colocada no lado esquerdo do peito.”

Chaves!

Elas existem há vários séculos, de diversos formatos e de vários tamanhos.

Elas têm duas funções básicas que são: – aprisionar ou libertar.

O interruptor é uma chave que me liberta da escuridão, que me alivia o calor…

Já o cartão telefônico é uma chave que me possibilita conversar com outra pessoa a longa distância.

Esta conversa pode ser libertadora ou aprisionadora; medíocre, fofoqueira, injuriosa, que além de mesquinha e infrutífera me aprisionará, me trará sérios problemas impossibilitando-me de enxergar as coisas como elas realmente são.

Na verdade, chave é tudo aquilo que facilita, que viabiliza, que torna fácil o acesso tanto para o bem quanto para o mal.

O álcool é uma chave para a descontração; facilita a aproximação de homens e mulheres, desinibe, mas também é a chave da grande maioria dos acidentes.

É ele quem impulsiona muitas pessoas para a criminalidade e formula atrocidades nas mentes onde habita.

Em suma, o álcool é uma chave que tranca mais que liberta e muitas vezes usando de sagacidade ele liberta hoje para encarcerar amanhã.

Quantos avolumaram seu molho com essa chave, líquida e estão literalmente aprisionados nas penitenciárias e nos manicômios?

Só resolvi abandonar a bebida depois que já estava de posse da chave abstrata da vontade e percebi a necessidade de adquirir a chave do bom senso, pois seria muita tolice, muita ingenuidade de minha parte achar que me livraria do meu algoz sem passar por momentos tempestuosos.

Destrancar os bares onde eu havia aprisionado meu espírito e minha mente, não seria tarefa fácil!

Depois, as chaves da força, da determinação e a dos sonhos tornaram-se minhas aliadas.

Os sonhos, que antes não passavam de ilusões, de fraco desejo, hoje, graças a essas chaves imateriais, a Deus e ao A. A., tenho me mantido sóbrio e conseguido realizar alguns sonhos que foram trancados na masmorra do álcool.

Essas chaves poderosas trouxeram-me até aqui, mas há uma outra que pode facilitar minha caminhada daqui para frente. Essa última possui elementos poderosíssimos em sua liga: é a chave da boa vontade.

Assim como a cobra coral, a boa vontade também possui uma sósia tão parecida que não é fácil distinguir a falsa da verdadeira.

A autêntica coral possui veneno poderosíssimo, capaz de matar em poucos instantes. A genuína boa vontade também, quando penetra na corrente sanguínea, quando passa a fazer parte do DNA da alma proporciona fé, resignação, comprometimento, paciência e compreensão.

A falsa boa vontade, que nada mais é que “obrigação”, tem ajudado as pessoas a seguirem em frente, mas de forma pesada, arrastada, lamuriosa.

Obrigatoriedade é um remédio excessivamente apimentado, ajuda, mas queima muito.

Já a boa vontade é açucarada, leve e prazerosa.

Hoje tenho certeza que as soluções para os meus problemas já existem! Só tenho que saber procurá-las e quanto à chave da boa vontade… estou tentando, mas já entendi que ela é real e que para conquistá-la é necessário que eu construa a fechadura perfeita, fechadura esta que depois de pronta deve ser mergulhada no mais puro amor e colocada no lado esquerdo do peito.

Quando a fechadura estiver pronta, a chave da boa vontade aparecerá.

(Fonte: Revista Vivência – 113 – Mai./Jun. 2008 – Marco Antônio – Niterói/RJ)