Olá, *|PNOME|*,
Desta vez, gostaríamos de trazer-lhe informações sobre a comunicação que costuma surgir em nossas reuniões de grupo, entre alcoólicos já reabilitados e outros que ainda sofrem as consequências do alcoolismo.
Ao falarmos a um novato sobre as relações que mantínhamos com o álcool, entramos na mesma caverna escura onde ele ainda se encontra. Ali permanecemos um tempo com ele, que logo percebe que o compreendemos por que, sem dúvida, estivemos ali antes. Então, apresentamos nosso atual modo de vida – que ele pode ver por si – e narramos como os Doze Passos de A.A. nos trouxeram ao lugar onde hoje estamos. E ele deduz, corretamente, que, se nós o conseguimos, ele também poderá consegui-lo. Não é raro que comece a nos ouvir com deboche, sarcasmo e/ou ceticismo e, ao final, esteja com os olhos marejados ou brilhando de esperança. Esse tem sido o simples e maravilhoso cotidiano das reuniões de A.A. em todo o mundo: um alcoólico falando a outro, no que chamamos a linguagem do coração.
Nossas reuniões não têm diálogo no sentido convencional. Sua dinâmica limita-se a curtos e sucessivos depoimentos. Enquanto alguém fala, os demais permanecem em silêncio. Não há palmas, réplicas nem retornos. Cada qual fala apenas de si mesmo. No entanto, há uma profunda identificação de si no outro — nos muitos e diferentes outros —, vendo neles o mesmo que sucedeu com cada um dos demais. Essa dinâmica intersubjetiva, em geral, faz com que membros partilhem aspectos de suas vidas jamais compartilhados – nem com familiares, nem com amigos íntimos, nem mesmo com seus cúmplices de copo. Ela tem o dom de libertar-nos da solidão que nos impusemos pelo acúmulo de culpa, remorso e dor — pelo feito e pelo não feito.
Os membros de A.A. têm sido capazes de ajudar beberrões de uma forma que raramente é dada a outras pessoas. A habilidade única de cada AA em identificar-se com o recém-chegado e reabilitá-lo não depende de seu grau de instrução ou outra capacitação específica. A única coisa que importa é o fato de ser um alcoólico que encontrou — para si — a chave da sobriedade. Os legados de sofrimento e reabilitação são facilmente transmissíveis entre alcoólicos, passando continuamente de pessoa para pessoa. Trata-se de um dom naturalmente desenvolvido. E fazer que seja conferido a outros como nós é o único objetivo que move A.A. em todo o mundo.
A força dessa linguagem tem sido capaz de romper todo tipo de barreiras e fronteiras humanas: entre gerações; entre gêneros e etnias; entre alcoólicos com posições políticas ou religiosas conflitantes; com gritantes diferenças culturais e/ou de escolarização, para citar algumas. Nas palavras do cofundador Bill W. ao desembarcar com sua esposa na Noruega, em 1950, para verem como a nascente Irmandade de A.A. estava na Europa:
Não entendíamos nenhuma palavra de norueguês. No entanto, desde o primeiro instante, havia uma comunicação maravilhosa. Havia uma incrível sensação de união, de estarmos em casa. Os noruegueses eram dos nossos. Eles tinham os mesmos sentimentos para conosco. Isso se podia ver em seus olhos.
À medida que íamos viajando de país em país, ia se repetindo esta aventura de compreensão e afinidade. Não era mero intercâmbio de experiências e de esperanças comuns. Era muito mais: era a comunicação de coração para coração com admiração, com alegria e com gratidão eternas. Lois e eu soubemos então que A.A. podia dar a volta ao mundo – e assim o fez!
Fraternamente,
Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil – JUNAAB
Comitê Trabalhando com os Outros