“Meu nome é Rosemary P. e sou alcoólica. É uma forma simples de se apresentar. E poderosa. Diz instantaneamente quem e o que sou. Imediatamente me vincula a outra pessoa também alcoólica”.
Falando no Fórum Regional do Noroeste (EUA), realizado no passado mês de junho (1996) em Portland, Maine, Rosemary chamou a identificação “a essência mesma de nosso vínculo comum” e manifestou sua preocupação porque “a forma em que tradicionalmente nos apresentamos nas reuniões tenha mudado tanto. Com frequência, omite-se até a palavra ‘alcoólico’”.
A Delegada de Nova York/Central referiu-se a algumas novas formas de se apresentar ouvidas atualmente em A.A., desde “sou duplo adicto” ou “dependente de substâncias químicas” até “sou uma pessoa em recuperação”. Disse que sempre “me sinto tentada a replicar-lhes com a pergunta é um ‘que’ duplo adicto? É um ‘que’ dependente de substâncias químicas? De ‘que’ ou de ‘quem’ se está recuperando? ” E cada vez mais frustrada acrescentou, “porque necessito saber que você está na reunião pela mesma razão que eu estou ali, para a recuperação progressiva da doença do alcoolismo”.
Rosemary também é da opinião que a aparente desintegração da maneira de nos identificar “submete nossa unidade e nossa unicidade de propósito a um grande esforço. Ao dizer em um evento de A.A. ‘sou drogadicto e alcoólico’ ou ‘sou alcoólico e duplo adicto’ estou dizendo que sou um tipo especial de bêbado, que o meu caso de alcoolismo é diferente do seu. Acrescento outra dimensão à minha doença – uma dimensão que, devido à nossa unicidade de propósito, não se deve considerar em uma reunião de A.A. O resultado é um corte pela metade do nosso vínculo comum e, mais importante, diluo minha própria razão para estar ali”.
Na sua Área, diz Rosemary, “se acreditava que depois que uma pessoa tinha passado um tempo em A.A. iriamos ouvi-la dizer: ‘sou um alcoólico’; que as outras palavras desapareceriam. Mas isso não aconteceu. Vemos gente que leva dois, três ou quatro anos sóbria em A.A. ainda aferradas ao jargão das clínicas de tratamento de onde vieram. Não fizeram a transição”.
O que devemos fazer sugere Rosemary, é fazer uma clara distinção entre os nossos problemas e leva-los separadamente aos programas específicos para trata-los: por exemplo, Narcóticos Anônimos ou Jogadores Anônimos. E quando participemos dessas reuniões, diz Rosemary, “devemos identificar-nos como corresponda”.
Foi sugerido, disse, ”para nos dirigir às instituições de tratamento e, com espirito de cooperação e para o bem do principiante, lhes peçamos que ensinem seus pacientes a distinguir suas adições ao invés de agrupá-los sob o rótulo de ‘personalidades propensas à adição’ utilizando-se daquele bordão ‘uma droga é uma droga é uma droga’”.
A ideia de solicitar a cooperação alheia faz sentido, observa Rosemary, “porém, me pergunto se a verdadeira solução não se encontra dentro da nossa Irmandade mesmo. Não é da responsabilidade de cada um de nós mantermos nosso programa intacto, e passa-lo ao principiante tal como foi passado a nós? E, podemos fazê-lo através de explicações pacientes, tolerância com as diferenças e mais explicação paciente? Acredito que sim, através do apadrinhamento comprometido, Grupos base sólidos e serviço ativo. Desta maneira, nossos novos membros aprenderão a ser parte, e não um fragmento de A.A.”.
Rosemary conclui dizendo: “A maioria de nós já ouviu dizer que ‘se um dia A.A. for destruído, seria desde dentro’ Na minha opinião, a apatia, com frequência disfarçada de ‘viva e deixe viver’ é um de nossos piores inimigos. Entretanto, a força destruidora não está nos membros que se apresentam como ‘adictos duplos’, mas na atitude daqueles que cruzam os braços e dizem: ‘por mim, tanto faz’”.