Tradicionalmente, os membros de A.A. sempre cuidaram de manter seu anonimato em nível público: na imprensa, no rádio, na televisão, no cinema e, mais recentemente, na Internet.
Nos primeiros dias de A.A., quando a palavra “alcoólico” levava um estigma maior do que hoje, era fácil entender este receio de identificar-se publicamente.
À medida que Alcoólicos Anônimos foi crescendo, logo se tornaram evidentes os valores do anonimato.
Primeiro, sabemos, por experiência, que muitos bebedores problema vacilariam em recorrer a Alcoólicos Anônimos se acreditassem que seu problema seria assunto de discussão pública, ainda que por descuido. Os novatos devem ter a possibilidade de buscar ajuda com total segurança de que sua identidade não será revelada a ninguém fora da Irmandade.
Ademais, acreditamos que o conceito de anonimato pessoal tem também um significado próprio para nós – que contribui para refrear os impulsos de reconhecimento pessoal e de poder, prestígio e riqueza que provocaram tantas dificuldades em outras sociedades. Nossa eficácia relativa ao trabalho com os alcoólicos poderia ver-se prejudicada em alto grau se buscássemos ou aceitássemos o reconhecimento público.
Ainda que todo membro de A.A. tenha perfeita liberdade de interpretar as Tradições de A.A. como melhor lhe aprouver, não se reconhece a nenhum indivíduo a legitimidade como porta-voz da Irmandade em nível local, nacional ou internacional. Cada membro fala unicamente por si mesmo.
Alcoólicos Anônimos tem uma dívida de gratidão com todos os meios de comunicação pelo que eles têm contribuído, ao longo dos anos, em reforçar a Tradição de Anonimato. O CTO/JUNAAB envia correspondência regularmente aos meios de comunicação para explicar-lhes essa Tradição e pedir-lhes que cooperem para que ela seja cumprida.
Por diversas razões, um membro de A.A. pode “romper” seu anonimato deliberadamente perante o público. Já que isso é um assunto de escolha e consciência pessoais, obviamente a Irmandade como um todo não tem nenhum controle sobre tais desvios da Tradição. Não obstante, fica bem claro que os membros que o fazem, não têm a aprovação da maioria esmagadora de seus companheiros de Alcoólicos Anônimos.
O Anonimato e as Redes Sociais
No mundo atual com o ritmo acelerado da alta tecnologia, os membros de A.A. estão acessando a Internet em número cada vez maior e de forma que não poderia ter sido imaginado até dez anos atrás. O bate-papo online de membros em todo o mundo se tornou comum, e uma quantidade enorme de informações sobre o alcoolismo e AA é obtida apenas com um clique do mouse. Portanto, com a amplitude do alcance da Internet vieram desafios, preservar as Tradições de A.A. no universo online é um assunto importante para todos na Irmandade.
Tal como acontece com vários temas que são abordados pelo AA, o GSO compilou um conjunto de Orientações sobre a Internet (MG-18) (no Brasil as Guias de orientação de A.A. na Internet aprovadas pela XXXIV CSG) com base na experiência compartilhada dos membros de A.A., através de seus comitês e comissões, que cobrem muitas das questões que esta nova tecnologia nos trás Uma dessas áreas de preocupação é a questão do anonimato online, particularmente no que se refere aos sites de redes sociais, o que levou-nos a ter um olhar mais atento para a literatura de AA e como as Tradições de AA podem melhor ser aplicadas neste meio popular de comunicação.
“Qual é o propósito do anonimato em Alcoólicos Anônimos?” e “Por que é frequentemente referido simplesmente como a melhor proteção que a Irmandade tem para garantir a sua existência e crescimento?”.
Para estas perguntas a Conferência de Serviços Gerais de A.A. aprovou o panfleto, “Entendendo o anonimato” (EUA/Canadá), que esclarece sobre anonimato e as Tradições de A.A., trata da publicação em artigo de jornal/revistas ou sites na Internet, sobre o nome completo ou fotos de membros de A.A..
“Se olharmos para a história da AA, desde o seu início em 1935 até agora,”, é claro que o anonimato serve para duas funções diferentes, mas igualmente vitais: “No nível pessoal, o anonimato fornece proteção para todos os membros identificados como alcoólatras, um salvaguarda de segurança, muitas vezes de importância crucial para recém-chegados”.
“Com relação a imprensa, rádio, TV, filmes e novas tecnologias de mídia como a Internet, o anonimato sublinha a igualdade na Irmandade de todos os membros, colocando um freio sobre aqueles que poderiam explorar sua filiação em AA para conseguir o reconhecimento, poder, ou ganho pessoal”.
Quanto à pergunta específica, “Sobre o anonimato online?” Nas Guias de Orientações de A.A. na Internet diz: “Um Web Site é um meio público, que tem o potencial de atingir o público mais amplo possível e, por conseguinte, exige as mesmas garantias que usamos ao nível da imprensa, rádio e cinema.”.
No entanto o G.S.O. recebe numerosas comunicações de membros preocupados com quebras de anonimato online, uso inadequado do nome e direitos autorais e marcas registradas de A.A., matérias sendo indevidamente usados em sites de redes sociais como Facebook, MySpace, Twitter, Orkut, Paltalk e outros. Estes sites oferecem aos indivíduos a oportunidade de postar uma grande quantidade de informações pessoais (e outras), e também permitem que os usuários criem redes sociais “comunidades ou grupos” para aglutinar aqueles com ideais semelhantes além de “eventos”.
Alguns membros não publicam em seus perfis nada que seja relacionado ao A.A., enquanto outros entendem que é correta a publicação, desde que não seja especificamente mencionado A.A., já outro colocam abertamente a condição de membro de A.A.
Um membro nos escreveu o seguinte: “eu digitei” Alcoólicos Anônimos “num desses sites de redes sociais e surgiu uma comunidade com mais de 6.600 membros. Entendi que parecia ser um lugar seguro para frequentar por isso achei que estava tudo bem. Então entrei para ver quem eram os membros e quando a página abriu vi o primeiro e segundo nome dos membros dessa comunidade, muitos com fotos”.
A partir daí, dependendo das configurações de privacidade das pessoas, pude ver facilmente informações pessoais sobre essas pessoas, suas famílias e amigos.
“Eu fui apadrinhado sobre a importância de nossas tradições”, e na minha opinião esta página não é de A.A. apesar de carregar o seu nome.
Alguns membros de A.A. acham que sites de redes sociais é um espaço privado; outros membros discordam fortemente e os entende como um ambiente público. As guias de Orientação de A.A. na Internet definem que os sites de redes sociais “são de natureza pública.”.
Quando é alertado sobre eventual quebra de anonimato, o GSO normalmente encaminha o caso para o delegado da área onde reside o membro (O delegado da área geralmente envia um lembrete amoroso para esse membro sobre a importância da Décima Primeira Tradição).
Em relação à Internet, este atitude amorosa de abordar a quebra de anonimato de um membro em nível público é inviável, dada a popularidade alcançada pela Internet e o grande número de pessoas envolvidas. A questão do anonimato passou a ser preocupante, e procuramos na experiência compartilhada acumulada dentro da Irmandade a respeito deste meio de comunicação em rápida evolução, observar as palavras de Bill W. quando descreve o anonimato como “o alicerce espiritual das nossas Tradições”.
Como a maioria dos assuntos em AA, independentemente de como a Internet e novas tecnologias possibilitem um e outro membro compartilharem, há grande benefício ha ser alcançado se tivermos um cuidado e uma avaliação prudente sobre esse assunto que causa preocupação para tantos.
Conversando com companheiros e amigos de A.A. a respeito de como aplicar as tradições de AA no online, acreditamos que iremos fornecer a eles uma maior compreensão sobre como nos apresentarmos diante de qualquer pessoa na rede, seja ela membro ou não membro de A.A. e que agindo com essa cautela poderemos “navegar” sem preocupação pelas páginas das várias redes sociais e sites de relacionamento na Internet.
Conforme apresentado no panfleto “Entendendo o Anonimato” (EUA/Canadá), a respeito do anonimato online, a consciência coletiva de AA expressa através de Conferência (EUA/Canadá) aprovou, na sua literatura sugestão que “os aspectos de acesso público da Internet, como sites da Web com texto, gráficos, áudio e vídeo deve ser considerados como uma forma de” mídia pública. “Assim, eles precisam ser tratados da mesma maneira como a imprensa, rádio, TV e filmes. Isto significa que os nomes completos e os rostos não devem ser usados, nem dados de identificação. No entanto, o nível de anonimato, em e-mail, reuniões on-line e salas de chat serão uma decisão pessoal.”. Mesmo assim existem sugestões a respeito do assunto nas “Guias de Orientação de A.A. na Internet” (EUA/Canadá e Brasil).
Em dez de junho de 2010, A.A. fez 75 anos; ficam faltando 925 anos para chegarmos aos mil anos que Bill preconizou. Entretanto, apesar dos percalços que ainda virão, “Se nos mantivermos próximos às nossas Tradições e Garantias e se mantivermos a mente aberta e um coração aberto, podemos lidar com esses e outros problemas”.
“Nada é mais importante para o futuro bem-estar de A.A. do que a maneira pela qual utilizamos o colosso dos modernos meios de comunicação. Usados bem e com altruísmo, podem produzir resultados que ultrapassem nossa imaginação. Se usarmos mal esse grande instrumento, seremos destruído pelas manifestações egoístas de nossa própria gente”.
Matéria publicada no BOX 459 Vol. 55, No. 5 / Winter 2009