Box 4-5-9, Out. Nov. / 1987 (pág. 8-9) =>https://www.aa.org/sites/default/files/newsletters/sp_box459_oct-nov87.pdf
Título original: “Transición do los Centros de Tratamiento en el Mundo de Afuera”
Para o alcoólico que começa uma vida de sobriedade, fazê-lo através de uma instituição de tratamento tem vantagens como, ficar durante algumas semanas num ambiente protegido, isolado das responsabilidades cotidianas ou ser “convidado” a uma nova vida sóbria, seguindo uma rotina de assessoramento entremeada com reuniões, Passos e lemas de A.A. É um mundo relativamente seguro. Entretanto, por estranho que possa parecer, há também desvantagens originadas por essa mesma segurança. Para o principiante que vive em um ambiente regulamentado e protegido, o mundo lá fora, que a toda pessoa recentemente sóbria lhe parece ameaçador, tende a ser ainda mais assustador. Com frequência, ele ou ela dizem, “Não posso voltar a tudo isso sem tomar um gole”. O desafio de ir para casa e retomar seus assuntos pode-lhes intimidar e desanimar. Muitos não têm sucesso.
Entretanto, outros são bem-sucedidos e conseguem passa por este difícil período de transição por várias razões, das quais poucas são fortuitas. Com muita frequência, através de assessoramento, de seus esforços para compreender os três primeiros Passos de A.A., da assistência assídua às reuniões que os Grupos locais levam à instituição e da relação com seu padrinho interino ou de contato, os principiantes encontram menos dificuldades neste período de transição. Ainda assim, frequentemente os principiantes não chegam a aproveitar alguns ou muitos destes fatores. Como parte de um esforço para nos informar sobre o que funciona – e não funciona, solicitamos a alguns AAs sóbrios de todas as partes dos EUA e Canadá que haviam estado internados em instituições de tratamento, que compartilhassem suas experiências com nós.
Todos com quem falamos já tinham algum pequeno conhecimento de A.A. antes de ingressar na instituição – uma visita de Décimo Segundo Passo que não surtiu efeito, uma conversa com um amigo membro da Irmandade, um encontro fortuito, etc. Na instituição todos se informaram de uma forma mais significativa a respeito de A.A., em quase todos os casos, através da assessoria e das reuniões que os Grupos locais levavam à instituição. Com menos frequência, aos pacientes lhes era possível ampliar sua experiência visitando Grupos de fora.
A maioria dos que responderam o questionário disse que alguns de seus conselheiros na instituição eram também membros da Irmandade. Porém, em poucos casos existia um programa de apadrinhamento de contato regular ou eficaz. De maneira geral, os Grupos que iam à instituição pouco se esforçavam para incentivar a ideia de padrinhos interinos.
“É uma pena, porque ao ser dado de alta a pessoa se sente solitária e nervosa”, diz Buck T., de Atlanta, Geórgia. Na instituição em que esteve nunca foi feita menção ao padrinho interino nem ao de longo prazo. “Teria sido muito útil para mim ter um padrinho de contato mesmo que fosse apenas que me levasse a uma reunião”. Esperou umas seis semanas para conseguir um padrinho, e o fez “porque um amigo me disse que assim o fizesse”.
Dave P., de Las Vegas, Nevada, escreveu: “Na instituição nos diziam que era uma boa ideia conseguir um padrinho entre os membros dos Grupos de A.A. que conduziam as reuniões, mas não diziam como fazê-lo. Naquele então, não sabia escolher”. Dave diz que voltou a beber, e passados alguns anos, retornou a A.A. e conseguiu um padrinho imediatamente.
“Lá lhes falta o apadrinhamento”, diz Robert B. de Little Rock, Arkansas, “é por isso os perdemos”. A instituição onde ele esteve faz sete anos, ainda não tem um programa de apadrinhamento de contato. “Eu fui o único a conseguir um padrinho, e até agora nenhum dos meus antigos companheiros do Grupo da instituição se encontra sóbrio”. Robert informa que frequentemente trata de iniciar programas de apadrinhamento de contato em várias instituições e que “funciona durante algum tempo, mas depois falha”.
Alguns membros compartilharam conosco uma experiência diametralmente oposta. Nancy K., de Rogers, Arkansas diz: “Na instituição onde estive, se insistia muito no básico de A.A. Obrigavam a ter um padrinho antes de sair”. Pediu a uma amiga, membro de A.A. já fazia muitos anos, que fosse sua madrinha; mas, se não houvesse sido possível, diz, poderia ter escolhido entre as muitas candidatas que havia nas reuniões a que assistia, dentro e fora da instituição.
De forma parecida, Alberta B., de Scarborough, Ontário, Canadá, conseguiu uma madrinha antes de ser dada de alta numa instituição que salientava a importância do apadrinhamento. De fato, pediu à pessoa que lhe fez uma visita de Décimo Segundo Passo que aceitasse ser sua madrinha; entretanto, “poderia ter conseguido uma imediatamente na instituição”, diz: “Recomendavam-no, e eu queria ter uma madrinha para assegurar-me que estava fazendo o apropriado”.
Cada um dos tiveram um padrinho ao receber a alta disse que ter um amigo durante as primeiras semanas ou meses de sobriedade facilitou a transição. Uns poucos disseram que sem um padrinho teriam voltado a beber. Alguns informaram que as instituições que não tinham um programa de apadrinhamento quando eles estavam em tratamento, agora têm, e eles participam desse programa.
Sem exceção alguma, entre os que responderam, os Grupos de fora acolheram esses pacientes com sinceridade, generosidade e bondade. “Deram-nos as boas vindas calorosamente”, diz Ellis C., de Southbury, Connecticut. “Ainda lembro esses dias como algo maravilhoso. Nunca fomos mais de cinco ou seis a um Grupo; a instituição não queria inundar as reuniões com pacientes, e o secretário sempre sabia que íamos assistir à reunião”.
Sempre havia quem, para recebê-los, fazia com que sentissem que A.A. era tanto para eles como para outros principiantes. Em alguns casos, os principiantes provenientes das instituições locais constituíam a maioria na reunião, mas, mesmo assim, não havia dúvida de que eram bem-vindos.
A maioria dos que responderam, disseram que o problema principal que tinham era o álcool. Alguns que tinham problemas com o álcool e as drogas, disseram que não encontraram dificuldade em chegar ao entendimento do programa de A.A. tendo em conta a Quinta Tradição. “Comecei com a bebida, acabei com a bebida; não me envolvo em nenhuma controvérsia. A.A. é o programa; os demais derivam dele”, diz Dave P., de Las Vegas, Nevada. Robert B. de Little Rock, Arkansas, um médico que tinha também problemas com drogas, está de acordo. “Meu padrinho me fez entender que se resolvia meu problema com o álcool, os outros problemas se resolveriam por si mesmos, e assim foi”.
A transição da instituição de tratamento para a vida de A.A. lá fora parece ser mais fácil para os principiantes se a instituição está localizada na área onde residem, mesmo que apenas seja porque já “quebraram o gelo” assistindo às reuniões locais. Mas este não é o fator principal no “alisamento do terreno”. O que mais ajuda é as boas vindas calorosas dos Grupos locais, de que falava Ellis G. Nenhum dos que responderam nos comunicou nenhuma experiência negativa, embora alguns tenham dito que eram “solitários” e resistiam a se “agregar”.
Nossos comunicantes também disseram que não sentiam “nenhum conflito” de lealdade ao receber a alta, entre a instituição de tratamento e A.A. Todos explicaram que sua instituição era “pro A.A.” e por isso não podia surgir conflito algum. Pelo contrário, Donna H., de Las Vegas, disse que enquanto participava do programa de pós tratamento, que dura nove semanas, dirigido pela sua instituição “aprendi a compartilhar com franqueza. Meu conselho é fazer o mesmo nas reuniões de A.A. De outra maneira, não iria conseguir abrir a boca”.
Muitos disseram que as experiências daqueles primeiros dias infundiram neles um forte desejo de ajudar todos os principiantes, especialmente àqueles que estavam tratando de orientar-se no terreno pouco conhecido da sobriedade, no ambiente protegido de uma instituição de tratamento.
“Acredito que o mais importante é ser amigável e acolhedor, e demonstrar interesse e carinho profundos”, disse Laure C., de Woodbury, Connecticut. “Toda vez que falo numa instituição, ouço os comentários dos pacientes. Ofereço-me imediatamente como amigo, para que percebam que lá fora há pessoas dispostas a ouvir e ajudar”.