A visão do Médico !

Olá, *|PNOME|*

Voltamos a nos comunicar com você, desta vez, para trazer olhares da medicina a respeito de A.A. Devido ao caráter breve de nossas comunicações, apenas reproduziremos impressões dos primeiros médicos que travaram relações com os pioneiros de A.A. – cofundadores e membros da primeira geração –, além de uns poucos fragmentos de achados da pesquisa acadêmica e uma visão contemporânea.

Segundo o Dr. William Silkworth — psiquiatra que, nos anos 1930, dirigiu o hospital especializado em alcoolismo onde Bill W. ficou internado —, uma vez que o alcoolismo se desenvolve, “a menos que a pessoa possa sofrer uma radical mudança, há muito pouca esperança de recuperação. Por outro lado (…), quando ocorre [tal] mudança, a mesma pessoa que parecia condenada (…), de repente se torna capaz de, com facilidade, controlar seu desejo de beber, precisando para isso apenas do esforço necessário para seguir algumas regras simples. (…) Ainda que o total de recuperações resultantes do esforço psiquiátrico seja considerável, nós, médicos, precisamos admitir que fizemos muito pouco diante do problema como um todo. Várias pessoas [que] não reagem ao enfoque psicológico usual (…) possuem um sintoma em comum: não podem começar a beber sem desenvolver o fenômeno da compulsão”. Este “Nunca foi definitivamente erradicado por meio de qualquer dos tratamentos que nos são familiares. O único alívio que podemos sugerir é a total abstinência. Isto nos lança imediatamente num caldeirão fervente de debates. Muito tem sido escrito a favor e contra…(…) Qual a solução?” Ele enfatiza que “A mensagem capaz de interessar e influenciar os alcoólicos precisa ter profundidade e peso. Em praticamente todos os casos, seus ideais devem ter como base um poder superior a eles mesmos, caso desejem reconstruir suas vidas”. E afirma: “Estamos certos de que, após anos de experiência, nunca encontramos algo que tenha contribuído mais para a reabilitação destas pessoas do que o movimento altruísta que hoje se desenvolve entre eles”.

Cerca de vinte anos depois, na Convenção que celebrou nosso 20º aniversário, um painel trouxe a visão da medicina da época sobre alcoolismo e A.A. Um dos psiquiatras que palestraram nesse painel, Dr. William W. Bauer, então ligado à Associação Médica Americana e à nossa irmandade, assim sintetizou o modo como atuamos, citando e comentando um colega: “O Sr. William Osler disse: ‘Não é tão importante saber que doença o paciente tem, mas que tipo de paciente tem a doença’. Essa é uma das coisas que vocês de Alcoólicos Anônimos tem percebido”.

Em 1995, um dos mais eminentes pesquisadores do alcoolismo, Dr. George E. Vaillant, professor de psiquiatria da Harvard Medical School, lançou a A História Natural do Alcoolismo Revisitada, onde coteja seu estudo de longa duração — meticulosamente conduzido com 600 indivíduos alcoólicos ao longo de 30 anos e revisado após mais 15 anos — com centenas de outros realizados no mundo até então. Já na seção de Agradecimentos ele diz: “Nos últimos dez anos, assisti a 50 reuniões de A.A.; eu recomendaria o mesmo para qualquer estudante seriamente interessado na doença. Talvez ninguém entenda tão bem o tratamento do alcoolismo como aqueles que venceram a batalha da doença contra si mesmos”. Nas páginas finais da edição em Português de 1999, ao apresentar suas conclusões sobre Abstinência em relação ao beber controlado revisitada, ele declara: “… o treinamento de indivíduos dependentes do álcool para alcançarem o retorno estável ao beber controlado é uma ilusão”. No tópico A recuperação através de A.A. é a exceção ou a regra?, após alertar que a amostra de seu estudo era relativamente pequena e segmentada, devendo, por isso, ser olhada com cautela, afirma que “muitos americanos severamente dependentes do álcool, independentemente da constituição social e psicológica, encontraram ajuda para seu alcoolismo através de Alcoólicos Anônimos”.

Dr. Vaillant — que nos deu a honra de presidir a Junta de Serviços Gerais de A.A. nos EUA/Canadá nos anos 19.. — expõe sua compreensão dos modos como os Doze Passos operam num processo que, segundo ele, é dos mais complexos e menos compreendidos pela psicologia, que é aquele “pelo qual as estruturas intrapsíquicas se transformam e produzem as últimas mudanças no caráter e na modulação dos impulsos”: “Os AAs transformam a solução do conflito via expressão direta de impulsos (atuação) na formação da reação (transformando os desejos instintivos em seus opostos); o álcool, ao invés de ser uma fonte de gratificação instantânea, torna-se a causa de todo o tormento da vida. Freud resumiu esse processo de formação da reação (…): ‘Uma jovem prostituta se torna numa freira velha’”.

Seu estudo ainda detectou que “Os últimos 15 anos têm fornecido indícios crescentes de que os princípios de A.A. são aplicáveis a populações diversas” e não apenas a “indivíduos extrovertidos, brancos, protestantes, provenientes de países de fala inglesa, de meia idade e da classe média”, adaptando-se aos mais díspares perfis humanos e regiões do planeta.

Finalizamos com um olhar da contemporaneidade, do Dr. Dráuzio Varella, médico oncologista, pesquisador e escritor brasileiro, em entrevista concedida à nossa Revista Vivência em 2017, por ocasião do 70º aniversário de A.A. no Brasil: “A medicina, agora, está começando a entender porque o trabalho de A.A. dá certo (…). O principal é que alcoolismo é doença crônica e recidivante”, e A.A. “entendeu isso desde o começo — que sempre é possível tentar outra vez”.

Gratos por continuar conosco,

Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil.

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Fontes: Vaillant, G.E. A História Natural do Alcoolismo Revisitada. Artmed, 1999. JUNAAB, Alcoólicos Anônimos Atinge a Maioridade, 2017; Alcoólicos Anônimos, 2008. Revista Vivência, edição n°169, 2017.

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