Há literatura de A.A. publicada em mais de 80 idiomas e edições do Livro Grande em 52, o que abre as portas da recuperação a milhões de alcoólicos fora do mundo anglófilo.
A supervisão dos trabalhos de tradução é feita de uma maneira sistemática; o objetivo é proteger a integridade da mensagem de A.A. e, ao mesmo tempo, publicar boas traduções da literatura de A.A. que representem com clareza e exatidão os textos originais.
As traduções são produzidas de duas maneiras. Às vezes, membros de A.A. ou profissionais que não são membros de A.A. residentes num país fora da estrutura de EUA/Canadá, se põem em contato com Alcoholics Anonymous World Services, Inc. (A.A.W.S.), ou, Serviços Mundiais de A.A. – a editora do Escritório de Serviços Gerais (ESG) de Nova York, para solicitar uma tradução de literatura ao idioma do país em questão. Por exemplo, em 2004, Mongólia fez uma solicitação desse tipo.
Mais frequentemente, os membros de A.A. de outros países põem-se a fazer traduções por iniciativa própria. A.A.W.S. recomenda que se comece com as traduções dos folhetos básicos de recuperação como, por exemplo, “A.A. é para mim? ”, “44 Perguntas”, e “Um recém-chegado pergunta…”. Entretanto, diz Liz López, não alcoólica, administradora de licenças e copyrights (direitos autorais) de A.A.W.S., “Todos querem começar com o Livro Grande”.
Às vezes o trabalho começa quando um membro ou uma entidade de A.A. de outro país se oferece para iniciar uma tradução. Primeiro A.A.W.S. precisa determinar se existe uma necessidade genuína. O trabalho de tradução supõe recursos financeiros consideráveis e por isso A.A.W.S. não pode aprovar todas as propostas feitas por membros de A.A. para fazer traduções. Quando se trata de traduzir o Livro Grande, após A.A.W.S. reconhecer a necessidade dessa tradução, pede aos pretensos tradutores que apresentem uma amostra de dois ou três capítulos, incluindo o Capítulo 5.
A seguir, A.A.W.S. envia esta amostra para uma agência de traduções que presta serviço para A.A. há bastante tempo, para que faça a avaliação dos trabalhos de tradução.
“Esta agência que utilizamos para verificar as traduções que recebemos dos AAs de todas as partes do mundo tem o nível de entendimento adequado e uma boa ideia do que desejamos e da própria Irmandade. Eles sabem onde têm que olhar”, diz Liz.
Mark Porto, presidente da agência de traduções, diz: “trabalhar com A.A., simplesmente produz um desejo de colaborar e fazer tudo o que seja necessário para produzir um trabalho de elevada qualidade. Percebemos que esta literatura constitui um elemento muito importante na corda salva-vidas que A.A. oferece a todos que estão procurando ajuda em todas as partes do mundo”.
Se a tradução for aprovada, isto é, se for considerada o suficientemente boa para servir de base, é dada luz verde aos AAs que se propuseram a fazê-la. Como disse Chris C., diretor de publicações do ESG, numa palestra na Reunião de Serviço Mundial no passado mês de novembro (2005): “é melhor que seja feita uma avaliação antes de dedicar grandes esforços para fazer uma tradução que no futura a Irmandade poderá não aceitar”.
Se a tradução não for aprovada, é possível que A.A.W.S. comece a fazer a tradução utilizando os serviços da citada agencia.
“A exatidão da tradução tem importância especial quando se trata de obras de Bill W. É essencial que as traduções dos nossos textos básicos – Alcoólicos Anônimos e Doze Passos e Doze Tradições, captem o tom e o espirito dos textos originais de Bill”, diz Chris.
Em todos os casos, A.A.W.S. detém os direitos autorais sobre os materiais, seja qual for o tradutor e sem importar onde sejam impressos ou distribuídos. Desta maneira A.A. preserva a integridade dos escritos.
A.A.W.S. concede licenças, sujeitas a renovação, aos escritórios de serviços centrais e locais ou outras entidades de A.A. de outros países. As licenças concedem aos AAs dos países solicitantes permissão para traduzir, imprimir ou distribuir a literatura especificada no documento. Os Escritórios de Serviços Gerais – ESGs, estabelecidos, por exemplo, em Portugal e Japão, assim como os de muitos outros países. Têm licença para fazer as três coisas. Porém, em muitos casos, A.A.W.S. encarrega-se de imprimir e distribuir os materiais.
A.A.W.S. detém os direitos autorais de aproximadamente 650 textos de A.A., desde o Livro Grande até o folheto “44 Perguntas”. Atualmente (2005), estão em curso umas 20 traduções de várias publicações de A.A.
“Fazemos todo o possível para colaborar com os membros de A.A. de todas as partes do mundo que estão fazendo traduções”, diz Liz. Mas sempre há certa condescendência ao escolher as palavras ou frases apropriadas nas traduções. “Quando há desacordo entre os tradutores de A.A. daqui (EUA/Canadá) e os de outro país, concedemos após tradutores do outro país o benefício da dúvida”.
Uldis D., que nasceu em Riga, Letónia e conseguiu sua sobriedade nos EUA, diz que quando voltou a Riga em 1998, foi convidado a fazer a tradução do Livro Grande. Havia cinco anos que estavam trabalhando nesse projeto. “Nossa equipe de tradução era formada por um poeta letão que podia ler inglês, um professor de música que podia ler a tradução ao alemão, um professor de geografia e eu, que havia morado nos EUA, e tinha 16 anos de sobriedade”, diz Uldis, cuja experiência é parecida com a de outros países.
“Acredito ser necessário que algum membro da equipe tenha conhecimento da história americana dos anos de 1930 e esteja familiarizado com o jargão daquela época. Pelo fato de haver morado nos EUA, eu com 60 anos de idade conhecia muitos dos termos utilizados no original do Livro Grande”, diz Uldis. “Finalmente, depois de anos de trabalho, em julho de 2003 enviamos a tradução por correio eletrônico ao ESG de Nova York, e recebemos a avaliação de um tradutor desconhecido para nós, mas de grande competência profissional. Repassamos as correções e os comentários, que foram aceitos u não, de acordo com nosso critério. No final, o trabalho foi excelente”.
Ao longo dos anos seguintes, os capítulos traduzidos iam sendo enviados de Riga para A.A.W.S. em Nova York e eram devolvidos com revisões sugeridas. Na primavera passada, foi publicado o Livro Grande em letão. “Não nos importou absolutamente quanto tempo levou para fazer a tradução correta e submetê-la a comprovação; já recebi comentários muito favoráveis quanto à qualidade do texto e o fato de que a obra tem emoções associadas”, diz Uldis. “Acredito que a tradução leva a mensagem tal como está expressa no original”.
Em Israel, faz três anos e meio que os AAs estão traduzindo o Livro Grande ao hebraico. Ioni R., um A.A. de Tel Aviv, diz que as traduções do Livro Grande que ele leu quando alcançou a sobriedade em 2001 não tinham a fluidez do hebraico moderno. “Eu comecei a fazer uma tradução da ‘História de Bill’ do Livro Grande”, diz Ioni. Outro companheiro israelense, este com 20 anos de sobriedade, ficou muito bem impressionado com a tradução de Ioni.
Depois de algumas discussões com outros AAs de Tel Aviv, chegou-se ao consenso de que existia uma necessidade urgente de publicar uma nova tradução ao hebraico do Livro Grande, uma versão que cumprisse com os requisitos para conseguir uma licença de A.A.W.S.
“Reuniram-se uns quantos companheiros, alguns para ajudar na tradução e outros para revisar e corrigir o texto”, diz Ioni.
Passado algum tempo, o grupo enviou a A.A.W.S. vários capítulos traduzidos como amostra, e em fevereiro de 2002 recebeu luz verde para continuar. No que se refere à revisão e comprovação do texto que é feita no ESG de Nova York, Ioni diz: “Estamos muito satisfeitos por poder fazê-lo assim, de seguir as normas para que se aprove a tradução. Não vemos nenhum inconveniente em submeter a tradução ao processo de avaliação”. No verão passado (2005), já tinham sido concluídos nove capítulos. “Demoramos algum tempo, mas considero o trabalho como um serviço. Talvez, depois de terminar este projeto, possamos começar a traduzir outros materiais”, diz Ioni.