“Não importa o que a vida fez conosco. O que importa é o que faremos com aquilo que a vida fez conosco”.
Olhamos o passado e tentamos descobrir onde erramos. Surge assim o conhecimento de nós mesmos, o autoconhecimento do “eu”: – Como eu me julgo? Como eu gostaria de ser?
Relaciono as pessoas que prejudiquei através do Oitavo Passo e me disponho a reparar os danos causados. Surge a necessidade de sermos perdoados.
Mas o que é o perdão? É uma decisão? É uma atitude? Ou é uma forma de vida?
O perdão é tudo isso ao mesmo tempo, porém: “busca tua verdade em teus sentimentos mais instintivos e escuta teu coração” – perdoa primeiro a si mesmo.
Que críticas de nós mesmos teremos que deixar de lado para que posamos nos perdoar?
Perdoar a si mesmo é provavelmente o maior desafio que podemos encontrar na vida. É o processo pelo qual aprendemos a nos amar e aceitar a nós mesmos.
O objetivo do perdão é a identificação de nossos enganos, temores, julgamentos e críticas que vêm nos mantendo presos no papel do próprio carcereiro.
Descobrimos através do Oitavo Passo a nossa verdade e nutrimos o respeito por que somos: – é o começo do fim do isolamento de nossos semelhantes e de Deus.
8º Passo:
Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados..
“ O começo do fim do isolamento”
Para entender o Oitavo Passo:
- – Mamãe! Sara me bateu! Roberto berrou como um louco.
- – Mas ele me chutou primeiro Sara se defendeu.
- – Sim, mas ela pegou meu jogo.
- – Ele não devia ser tão melindroso.
E por aí vai…
Isso parece familiar, não parece? Pois é, as crianças adoram culpar os outros por seus problemas e detestam aceitar responsabilidades.
De vez em quando, nós adultos as obrigamos a aceitar responsabilidade e as constrangemos a um pedido de desculpas forçado. Mas elas nunca dizem espontaneamente: “Sinto muito. Comportei-me mal. Errei”.
No Oitavo Passo começamos a crescer; a fazer o que as pessoas amadurecidas espiritualmente fazem: aceitar a responsabilidade de nossos atos, sem levar em conta o mal que os outros nos fizeram.
Por isso que no Sexto Passo é feita a advertência de que aquele Passo é o que separa os adultos dos adolescentes.
Se quero crescer tenho que ir em frente, a diferença de comportamento e do adolescente é a maturidade, é a capacidade de assumir a responsabilidade pelos atos praticados.
Por isso é que o Sétimo Passo nos fala de humildade, pois sem essa virtude primordial não conseguiremos ir em frente.
Até aqui em nossa caminhada só estivemos lidando com material nosso: o inventário do Quarto Passo era só nosso e de mais ninguém.
Nossas admissões no Quinto Passo foram de falhas nossas e de mais ninguém.
Os defeitos de caráter do Sexto Passo e as imperfeições do Sétimo Passo também são nossos, de mais ninguém.
No Oitavo Passo, continuamos a nos examinar, porém levando em conta os que foram prejudicados por nós. Com a ajuda de um Poder Superior, recordamos os nomes e as fisionomias das pessoas que prejudicamos.
Nossa tarefa neste Passo é tão somente fazer uma relação de nomes, apreciando cuidadosamente cada um desses nomes com atenção e procurando perceber os diferentes tipos de reação que teremos com cada nome individualmente.
A alguns estremecemos, outros teimamos em achar que não deve fazer parte dessa lista e há ainda aqueles que achamos que somente nos prejudicaram.
A esta reação devemos ser cautelosas, pois podemos estar incorrendo no grave defeito da racionalização.
Esta reabertura das feridas emocionais, algumas velhas, outras talvez esquecidas e ainda outras, sangrentas e dolorosas, pode nos dar a impressão de ser uma operação desnecessária e sem propósito, porém, se formos firmes e precisamos ser, as vantagens de se continuar fazendo a lista vão se revelando e a dor irá diminuindo à medida que os obstáculos forem desaparecendo.
Segundo citação em nosso livro os Doze Passos e as Doze Tradições: “Tais obstáculos, contudo, são muito reais”.
O primeiro e um dos mais difíceis, diz respeito ao perdão.
Desde o momento em que examinamos um desentendimento com outra pessoa, nossas emoções se colocam na defensiva.
“Evitando encarar as ofensas que temos dirigido a outro costumamos salientar, com ressentimento, as afrontas que ele nos tem feito”.
Ao fazer a relação das pessoas às quais prejudicamos, a maioria de nós depara com outro resistente obstáculo.
Sofremos um choque bastante grave quando nos damos conta que estávamos preparando a admissão de nossas condutas desastrosas cara a cara perante àqueles que havíamos tratado mal.
Por que , lamentávamos simplesmente não esquecer o que passou? Será que não podemos deixar algumas pessoas de fora? Por que considerar todas?
Estas são algumas das prerrogativas que o medo conspira com o orgulho para impedir que façamos a lista completa. Isto sem contar que, não raro, nos passa pela cabeça que os únicos prejudicados fomos nós mesmos.
As armadilhas preparadas pelo nosso ego são muitas e devemos ter o cuidado de detectá-las e desarmá-las para que as mesmas não impeçam o nosso crescimento.
À medida que vamos vencendo o medo e o orgulho e nos damos conta de que a relação é necessária e nos vai fazer bem; pode nos ocorrer uma pergunta: – “Que tipos de danos podemos fazer às outras pessoas?
“Podemos definir os danos como o choque entre instintos; os desejos que cada ser humano tem individualmente, principalmente nas áreas de segurança física e material, convívio social e sexual, que podem causar prejuízos materiais, emocionais e espirituais”.
Podemos dividir os danos em três grandes categorias:
Danos Materiais: Ações que afetaram um individuo de forma tangível, como, por exemplo, tomar dinheiro emprestado e não pagar conforme combinado, gastar exorbitante mente, pão durismo, gastar na tentativa de comprar amizade ou amor, fazer contratos e recusar-se a agir de acordo com o prescrito no mesmo, etc.
Danos Morais: Comportamento impróprio em ações e conduta morais ou éticas, envolvendo os outros em nossas más ações, dando maus exemplos para crianças, amigos ou quem quer que nos tome por modelo, estando preocupados com atividades egoísticas e completamente alheios às necessidades dos outros. Infidelidade conjugal, promessas quebradas, insultos verbais, mentiras, falta de confiança, etc.
Danos Espirituais: Atos de omissão por negligenciar nossas obrigações com nós mesmos, com a família, com a comunidade.
Por exemplo, não demonstrar gratidão para com aqueles que nos ajudaram, evitar progredir em áreas como as da saúde e educação, não dar atenção aos que fazem parte de nossas vidas, deixando de incentivá-los, etc.
As idéias fundamentais do Oitavo Passo:
Reparação: No contexto dos Doze Passos, a ideia de reparação é definida como reparar os danos do passado. A reparação pode ser tão simples quanto um pedido de perdão ou tão complexa quanto a reparação por prejuízos físicos ou financeiros.
Perdão: O perdão é parte essencial do Oitavo Passo.
Quando colocamos este Passo em ação e começamos a fazer uma lista das pessoas que prejudicamos, imediatamente pensamos nos danos que os outros nos causaram.
Talvez esta reação seja um mecanismo de defesa, um meio de evitar a admissão de culpa. Talvez não. Não importa porque nos sentimos assim. O importante é cuidarmos do problema.
Precisamos perdoar os que nos magoaram.
O perdão não é emoção. É decisão. Só pode ser real com a ajuda de Deus. Só Ele nos pode dar a graça, o desejo e a capacidade para eximir os que nos magoaram.
Sozinhos, deixamos o rancor, a amargura se infiltrarem e tomar conta.
O Oitavo Passo é o começo do fim do nosso isolamento de nossos semelhantes e de Deus.
(Fonte: Revista Vivência Nº 118 – Rogéria/MG)