“Errei!
Perdão!
Meu erro foi me deixar levar…
Esquecer-me de mim, dos meus princípios e de todos…
Perdoe-me por deixar-me dominar pela doença.
Maltratar e magoar as pessoas que mais amo.
Perdoe-me por falar demais quando deveria calar-me e ouvir.
Por calar-me quando deveria dizer palavras certas nas horas certas.
Perdoe-me pelo abandono; pelo pouco caso, pela indiferença!
Pela minha mão não estendida…
Arrependo-me!
Se um dia puder… perdoe meus atos… Volte a confiar em mim!”
Simples não é mesmo?
Este é o espírito do Nono Passo: reparar os danos causados.
Um ato corajoso!
“Reparando prejuízos causados”: só o ofendido sabe o quanto dói a ofensa.
“Coragem, Bom Senso e Prudência”: faça sua escolha e sua escolha fará você.
“Paz de Espírito”: ao beneficiar terceiros obterei a tão almejada paz de espírito.
9º Passo:
“Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem”.
“ Reparando prejuízos causados – Paz de Espírito”
Entendendo o Nono Passo
As catástrofes são sempre notícias absorventes.
Terremotos, furacões, incêndios, enchentes, ataques terroristas, guerras e tantas outras tragédias prendem nossa atenção. Porém raramente vemos trabalho árduo de reconstrução que acontece depois que o desastre passou.
Vidas, lares, negócios e comunidades inteiras são restauradas.
Todos podemos nos lembrar do fatídico 11 de setembro e o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque.
Todos podemos detalhar ao máximo o ocorrido; as mortes, os lances mais excepcionais e tudo de importante ligado àquele ataque terrorista.
O mesmo podemos dizer do furacão Katrina nos estados Unidos que atacou ou o violento Tsunami que atacou a costa asiática.
Os mais antigos podem até se lembrar do incêndio devastador no edifício Joelma em São Paulo ocorrido lá pelos anos 70/80.
Mas poucos, ou praticamente ninguém, viu ou vê o trabalho árduo de reconstrução que acontece depois que o desastre passou.
A vida, lares, negócios e comunidades inteiras são restauradas e reanimadas. É um longo e exaustivo trabalho.
Pois bem, o Nono Passo assemelha-se às restaurações e à reconstrução que acontecem depois de uma calamidade.
Pelo processo de reparação, começamos a corrigir os danos de nosso passado.
No Oitavo Passo avaliamos os danos e fizemos um plano. Agora, no Nono, entramos em ação.
Após haver elaborado a relação das pessoas às quais prejudicamos, refletido bem sobre cada caso específico e procurado imbuir do propósito correto para agir, veremos que o reparo dos danos causados divide em várias classes aqueles aos quais nos devemos dirigir.
O Nono Passo completa o processo de perdão que começou no Quarto Passo e satisfaz nossos requisitos para nos reconciliar com os outros.
Neste Passo, tiramos as folhas mortas de nosso jardim, recolhemos e tentamos nos desfazer dos velhos hábitos.
Estamos prontos para enfrentar nossas faltas, a admitir o grau de nossos erros; a pedir e a oferecer perdão.
Aceitar a responsabilidade pelos danos causados pode ser um experiência de humildade porque nos força a admitir o efeito que tivemos na vida do outro.
Desde que começamos nossa recuperação, percorremos um longo caminho para desenvolver um novo estilo de vida. Vimos como a impotência e o descontrole de nossas vidas causaram danos. Nosso compromisso de enfrentar nossas falhas de caráter, admiti-los para os outros e, por fim, pedir a um Poder Superior para removê-los foi experiência de humildade.
No Oitavo e Nono Passos prosseguimos com a última etapa para reedificar nosso caráter.
O Nono Passo, tal como todo o programa de A. A., exige que tenhamos coragem, perseverança e fé de que o que estamos fazendo é para o nosso próprio benefício; é para o nosso próprio desenvolvimento emocional e espiritual e todo o esforço será recompensado.
Mas, especificamente no Nono Passo teremos que desenvolver algo mais; teremos que ter um cuidadoso senso de oportunidade e julgamento de cada caso de reparação.
Por muitas vezes, a reparação terá que ser adiada e em muitas outras será melhor não fazê-la.
Este Passo é o único que fala que o adiamento talvez seja o mais oportuno a se fazer.
Na minha opinião, a prática do Nono Passo teria que ter o acompanhamento direto de um padrinho, esta figura tão mal compreendida em nosso meios. Com a ajuda do padrinho podemos facilitar a distinção daquelas reparações que devemos fazer das que não devemos. Ele pode nos fazer ver quando estamos apenas protelando uma reparação sob a desculpa que estamos apenas sendo prudente. A nossa velha e conhecida racionalização.
Aliás, racionalizamos que o nosso passado ficou para trás, que não há necessidade de provocar mais aborrecimento. Imaginamos que reparações por danos passados são desnecessárias, que tudo que temos que fazer é alterar nosso comportamento atual. Apesar de alguns de nossos comportamentos passados podem ser sepultados sem confronto direto.
Dá logo para perceber que a tarefa de distinguir aquelas reparações que devo fazer das que não devo exige sabedoria e sabedoria quando se trata de nós mesmos é arriscado que a temos. É melhor pedir ajuda e apóio de outras pessoas durante este trecho de nossa viagem.
Enfim, não devemos esquecer que o objetivo final é o de ver a nossa vida melhorada, cheia de paz, serenidade, livre dos medos e ressentimento de nosso passado.
É bom salientar que o Nono Passo tem duas partes distintas a respeito de fazer reparações:
“Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas sempre que possível”.
Por reparação direta devemos entender aquelas pessoas que estão acessíveis e podem ser abordadas quando já estivermos prontos. Podem ser amigos ou inimigos. Talvez a reação da outra pessoa nos surpreenda, principalmente se a reparação for aceita. Mas devemos estar preparados para caso ela não seja aceita também. Nossa reparação não depende da reação do outro.
Há, porém aquelas pessoas que não estão acessíveis, algumas já podem ter morrido e outras nem sabemos por onde anda. Neste caso não nos resta muita coisa a fazer, talvez o simples fato de elas terem sido lembradas na nossa relação já seja uma reparação.
A outra parte do Nono Passo diz:
“Salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem”.
Há reparações que, talvez, devam ser evitadas. Principalmente os casos de infidelidade conjugal, pois nesses casos poderiam ocorrer danos para várias partes.
Outras situações seriam aquelas em que o risco da perda do emprego possa ser eminente, prejudicando a nossa família ou mesmo revelações que poderiam levar a prisão com conseqüente afastamento da família. São situações extremamente difíceis e a decisão não deve ser tomada sozinha.
Há também reparações que exigem ação protelada. Raras vezes é aconselhável abordar de forma repentina o indivíduo que ainda sofre profundamente com as injustiças que fizemos.
Nas situações em que a nossa Dora ainda é profunda, a paciência é a nossa melhor escolha. Nossas metas finais são o crescimento e a reconciliação. Imprudência e pressa podem fazer mais danos e frustram nossas metas finais.
É importante que tenhamos claro em nossas mentes a distinção entre fazer reparações e pedir desculpas. Estas são apropriadas, mas não substituem aquelas.
Podemos pedir desculpas por chegar atraso a um compromisso, mas enquanto não corrigirmos esse comportamento, a reparação não foi feita. O pedido de desculpas funciona como reparação desde que acompanhado do compromisso de mudança de comportamento.
Durante a prática deste Passo, podemos passar por recaídas emocionais ou espirituais ocasionais. Isso é normal, mas é importante que aprendamos a lidar com elas imediatamente, pois do contrário podemos ter nossa capacidade de fazer reparações prejudicadas.
Estas recaídas podem ser sinais de que não estamos colocando o programa em prática
com eficiência. Talvez tenhamos nos afastado de nosso Poder Superior e necessitemos voltar ao Terceiro Passo. Talvez tenhamos deixado de citar alguma coisa em nosso inventário e por isso devemos retornar ao Quarto Passo. Ou talvez não queiramos abandonar um comportamento derrotista e precisemos retornar ao Sexto Passo.
Ideais fundamentais do Nono Passo:
Reparações diretas:
São as que fazemos a alguém que prejudicamos. Marcamos um encontro ou planejamos nos encontrar pessoalmente com essas pessoas.
Reparações indiretas:
São as reparações não pessoais que fazemos aos que prejudicamos, a alguém que já morreu, de localização desconhecida ou inacessível por alguma razão. Nestes casos uma oração ou mesmo descrever os danos causados ao nosso padrinho são suficientes.
Reparações para nós mesmos:
Muitas vezes prejudicamos mais a nós mesmos que a qualquer outra pessoa. O procedimento de reparação não seria completo sem algum tempo dedicado a endireitar a nós mesmos. Talvez a prática de A. A.; seja a maneira mais agradável de fazer reparações a nós mesmos.
Uma citação final:
“Só o ofendido sabe o quanto dói a ofensa”.
(Fonte: Revista Vivência – Nº 119 – Maio-Jun/2009 – M.P. / Cachoeira do campo/MG)