Quando tinha três meses de sobriedade e após lutar por muito tempo contra o alcoolismo, o estresse e a tensão em minha casa eram insuportáveis. Temia fracassar no meu casamento, perder meu lar e minha segurança, mas estava disposta a fazer tudo o que fosse possível e necessário para manter-me sóbria. Tinha meu marido, com o qual estava casada há quinze anos, e dois filhos (de seis e de nove anos). Porém, o silêncio do meu esposo e o distanciamento que sentia dos meus entes mais queridos eram horríveis. Eu não sabia se a recuperação, que era tão boa para mim, seria boa também para eles.
Estava terminando de assistir a minha nonagésima reunião em noventa dias, e ia em direção a uma reunião de mulheres, querendo que a minha família me apoiasse e ajudasse a encontrar o que chamamos de recuperação. Senti-me culpada por sair de casa nessa noite, depois de lavar os pratos sujos do jantar. Meus filhos me puxavam pela manga para que jogasse com eles, ou lesse uma história, ou fizesse qualquer coisa, contanto que não os deixasse sozinhos. Então, eu os imaginava com o meu marido, assistindo televisão num estado comatoso ou de torpor. Eu queria tanto que eles conhecessem o amor que eu sentia nas reuniões, que eles ouvissem como honestamente compartilhávamos nossas experiências, que sentissem o que sentem as famílias unidas. Meu marido não acreditava que eu fosse uma alcoólica, acreditava apenas que eu bebia em demasia e que se não bebesse tanto me sentiria melhor. Ele não entendia o alcoolismo. Não queria saber de nada a respeito do Al-Anon ou de ler os panfletos sobre os cônjuges. Sua recusa era profunda.
Naquela noite em particular, cheguei em casa me sentindo tranquila, como se houvessem tirado uma carga dos meus ombros – como geralmente me sinto após uma reunião de A.A. Minha filha de seis anos então chegou correndo, saltou nos meus braços e pôs as pernas em torno de minha cintura. Disse: “Mamãezinha, de que cor são essas salas aonde você vai?”
Pensei por um minuto e acreditei me lembrar que eram verdes, mas respondi com outra pergunta: “De que cor você imagina que elas são?”
– “Amarelas!”, exclamou.
– Perguntei então para ela: “Por que você acha que são amarelas?”
Sua resposta mudou o curso da minha recuperação. Sem pestanejar ela respondeu: “Porque você sempre volta para casa radiante e fulgurante!”
– Sim, isso é o que ela via, então valia a pena. A luz do espírito brilhava através de mim e minha filha podia vê-la. Essa foi uma das primeiras demonstrações que recebi da minha família.
Posteriormente, confirmei que a sala onde estivera naquela noite era verde. Por um tempo não pude voltar a esse grupo, mas, seis meses depois, pediram-me que compartilhasse minhas experiências lá. Entrei na mais acolhedora sala pintada de amarelo que se possa imaginar e, imediatamente, senti um calafrio, que agora chamo de “despertar espiritual”. Compartilhei minha experiência, força e esperança, com amor transbordando do meu coração, com aquelas formosas mulheres em recuperação.
Essa história se transformou numa parte da minha recuperação. Tudo isso ocorreu faz muito tempo, contudo, assisto de três a quatro reuniões por semana, porque ainda desejo a recuperação e estou muito agradecida. Estou me recuperando de uma enfermidade aparentemente incurável, e não tenho sentido a necessidade de beber desde o dia 13 de setembro de 1979. A minha querida filha já é uma mulher, porém, é uma filha que me dá o seu amor. (La Viña, setembro/outubro de 1999)
(Vivência nº 65 – maio/junho 2000)