A freqüência com que o assunto alcoolismo vem surgindo na imprensa, rádio e televisão fazem um esboço desse problema que afeta toda a sociedade, pois queiram ou não, todos os cidadãos findam fazendo parte desse quadro, sempre como vítimas.
O alcoolismo foi declarado doença pela Organização Mundial de Saúde em 1967 e afeta tanto as pessoas que bebem como suas famílias, que adoecem junto; os empregadores e o poder público, que desembolsam boa parte dos seus gastos para enfrentar problemas decorrentes do consumo de bebida.
As conseqüências do alcoolismo terminam sempre nos hospitais, delegacias de polícia, corpos de bombeiros, juizados das mais diversas causas, penitenciárias, cemitérios e uma lista imensa de outros lugares.
Há 72 anos uma entidade vem cuidando de alcoólicos no mundo inteiro e está até na Internet, onde encontramos o site www.aa.org.br Que divulga inclusive um lema interessante: “Evite o primeiro gole”.
Conhecida popularmente como A.A., a entidade funciona desde que dois alcoólicos descobriram que podiam manter-se sóbrios compartilhando seus problemas entre si. Mas juntamente com aquela entidade desenvolveu-se também no mundo inteiro uma organização chamada Al-Anon, que cuida de familiares e amigos de alcoólicos, adota os mesmos princípios de Alcoólicos Anônimos (adaptados) e adaptou também esse lema, para recomendar: “Evite o primeiro atrito”.
É sobre esse “primeiro atrito” que desejo falar, considerando algumas informações importantes que tive a oportunidade de colher em evento promovido por aquela entidade, onde tive a sorte de comparecer na qualidade de profissional interessado no assunto.
Ao evitar o primeiro atrito, os familiares fazem com que muitos problemas sejam evitados também, pois sempre que existe um confronto com um alcoólico – embriagado ou não – as conseqüências podem ser drásticas.
Segundo uma palestrante – que não se pode identificar para manter seu anonimato seguindo os princípios da entidade “Al-Anon surgiu da mesma necessidade de A.A. A necessidade de ‘dialogar’, de uma pessoa entender a outra, falarem a mesma linguagem, trocarem as experiências vividas com seus entes queridos doentes, que tanto lutavam para largar a bebida e não conseguiram.
Não custou muito para que as esposas dos alcoólicos descobrissem que o estado em que se encontravam era resultado do convívio sob o domínio do álcool, quando seus familiares e amigos se tornavam pessoas também doentes, de uma doença emocional. A troca de experiências mostrava o caminho a seguir.”
Como o alcoolismo é considerado uma doença reflexiva – pois todos do convívio do alcoólico adoecem juntos – torna-se dificílimo compreender uma vida tão atribulada, onde o senhor de tudo é o álcool, que impera, manda e comanda a vida do alcoólico e conturba toda a família, pondo de água a baixo todos os planos feitos anteriormente.
Até que o familiar tome conhecimento de que o alcoólico é portador de uma doença, aceite, compreenda e se trate junto, leva muito tempo e requer sacrifício de ambas as partes, explica a representante dos familiares.
Al-Anon no Rio Grande do Norte completou trinta anos de formação em 2007. Desde que surgiu, os seus membros procuram mostrar que quando um familiar ou amigo de alcoólico evita o primeiro atrito, está contribuindo para a recuperação, na medida em que evita um descontrole emocional de ambos.
Al-Anon mostra que qualquer assunto ou problema surgido pode e deve ser tratado somente depois que os ânimos estiverem acalmados, noutro dia, noutra hora.
Falam em “recuperação” e não em “cura”, porque o alcoolismo não tem cura; pelo menos até agora não foi descoberta.
A importância das esposas de alcoólicos frequentarem o Al-Anon está na recuperação delas próprias.
A palestrante esclareceu que à medida que elas frequentam, tomam conhecimento de que seus familiares são doentes, descobrem que adoeceram emocionalmente durante esse mesmo tempo e trazem consigo as sequelas do sofrimento daquele convívio. Passam a trabalhar os sentimentos negativos, tão fortes, tão vivos, tão bem guardados e conservados de raiva, ressentimento, angústia, negação, rancor, auto-piedade. Isso só acontece numa sala de Al-Anon, onde o foco do tratamento é o familiar e não o alcoólico garante ela.
Uma mudança de atitude do familiar esteja o alcoólico bebendo ou não, muda o clima e a convivência se torna mais amena.
Walter Medeiros – Jornalista – Natal, RN
Vivência nº 112 – Março/Abril 2008