O pior é que me via em melhor lugar do que elas. Achava que elas estavam perdendo tempo e eu, ganhando a vida!
O álcool me facilitava obter “status” de mulher independente, corajosa e à frente do meu tempo, pois vivia em núcleos de pessoas ligadas à arte, música, teatro e nesse universo tudo parecia ser fácil, leve e solto!
Pregávamos a paz e o amor livres e mal sabíamos quão prejudicadas éramos por “coisificarmos” nossas relações com as pessoas.
Sim! Estabelecíamos relações descartáveis e a prática do hedonismo era a filosofia de vida daquele meu tempo.
Assim segui durante a minha juventude, devastando pessoas (especialmente a mim mesma) e afetos, em nome de minha liberdade.
Justificava meu comportamento alcoólico que se manifestava na dificuldade de adequação, de concentração e na desobediência aos códigos sociais,dizendo que eu estava além daquilo tudo e que meu espírito era livre demais para pertencer a algum sistema retrógrado como o da sociedade patriarcal. Não me submetia a relacionamentos duradouros nem às normas de conduta. Além de vociferar contra o sistema educacional e de me rebelar contra professores e diretores na época da faculdade; eu a interrompi por duas vezes: frutos amargos que colho por ainda estar suspensa esta etapa da minha vida.
Fundamentei meus conceitos acerca de ser jovem e mulher em parâmetros e códigos totalmente distorcidos. A ousadia, comum à minha personalidade me levou a aventuras bastante perigosas e toda a minha juventude foi pautada em ações fora da lei, fora de princípios, fora de uma vida serena e pacata. Minha doença pedia muita adrenalina e muito risco de vida. Eu acreditava que possuía vantagens em não ter paradeiro e em não andar na linha.
Ao ingressar em a.A. levou algum tempo para que eu entendesse o ponto de vista dos AAs em relação ao ser JOVEM.
Eu me cobrava muito por ter chegado totalmente destruída e sozinha. Descobri que não construí família nem gerei filhos ou me estabeleci profissionalmente por não ter tido condições emocionais e espirituais para tal e não porque eu NÃO QUIS ou me sentia à frente do meu tempo. Ao contrário do que pensava, eu não era livre e feliz. Seguia a cartilha do alcoolismo, aprisionada e vagueante. Consequentemente me sentia velha demais para começar uma nova vida.
Porém, em A.A. ouvi companheiros que chegaram com muito mais tempo de vida que eu: aos 50, 60, 70 anos de idade e que ainda tinham o brilho e esperanças comuns à juventude. Diziam que sua vida havia começado ali em A.A. e comemoravam seu tempo de sobriedade como se fosse o tempo em que começaram a viver. De fato é isso!