Os jovens em Alcoólicos Anônimos, ou, como chegar jovem e manter-se sóbrio

Título original: “Llegar joven a A.A. y mantenerse sobrio”.
 
 Desde já faz várias décadas, um número cada vez maior de adolescentes bebedores problema está-se recuperando em Alcoólicos Anônimos.
 
Numa carta a um companheiro, escrita em 1960, Bill W. diz: “Para nós, os pioneiros,  a chegada de tantos membros jovens em A.A. é uma das mais profundas satisfações que possamos experimentar. Pensar que muitos deles vão se livrar desses dez anos extras de sofrimentos infernais pelos que tantos de nós passamos…”
Devido a que o programa depende da capacidade de identificação com os demais membros, uma diferença grande de idade pode ser um obstáculo. Entretanto, há membros em A.A. que alcançaram a sobriedade quando jovens e tem-se mantido assim.
 
Bob S., chegou em A.A. faz 34 anos, com a idade de 19, tinha sido um bebedor que experimentara apagamentos desde os doze anos. “Passei por uma desintoxicação num pavilhão psiquiátrico quando estava com 16 anos e, dois anos mais tarde disseram-me que quase estava com cirrose”.
 
Não lembra da primeira vez que ouviu falar de A.A. “ninguém me disse nada a respeito de A.A. e não posso lembrar de onde partiu a ideia. Porém, quando chamei A.A. a primeira vez, estava sentado no meu sofá com um rifle, e tinha a ideia de me dar um tiro”.
 
Naquele tempo Bob morava em Akron, Ohio, e diz que uma das pessoas que salvou sua vida foi um membro de A.A. de 73 anos.
 
“Não ouvi nada a respeito de que alguém bebia mais do que você bebia. Dois homens de A.A. vieram me recolher e levaram-me à minha primeira reunião. Tinha sangue seco no cabelo e um olho roxo e fechado, e ninguém me disse que tinha errado o lugar”.
 
Bob diz que, quando ele chegou, A.A. era muito mais “direcionado”; hoje, os adolescentes têm maiores possibilidades de alcançar a sobriedade porque há mais gente jovem com quem possam se identificar.
 
“Fui a uma reunião de jovens quando iniciante, e a pessoa mais jovem tinha dez anos mais que eu. Lá todos tinham quase ou mais de 40 anos”, diz Bob. Nos dias de hoje é muito mais fácil para os jovens encontrar gente da sua idade”.
 
Becky P., que alcançou a sobriedade 17 anos atrás, em Billings, Montana, quando tinha 14 anos, acredita que segue sendo difícil para um jovem alcançar a sobriedade. “Não vi nada para poder dizer que é mais fácil chegar em A.A. aos 14 anos. A pressão dos companheiros segue sendo a mesma”. Adverte-se ao recém chegado para evitar “pessoas, lugares, coisas”. No entender de Becky isso pode resultar impossível para o adolescente cujo mundo social está centrado na escola local. “Os companheiros e colegas sempre cruzam seu caminho nos corredores, salas, quadras, e não há forma de serem evitados. Eles não entenderão que você está tratando de alcançar a sobriedade”.
 
Ela também percebe que a Irmandade que a impulsionou para o caminho da sobriedade, e possível que não exista em todos os lugares. Ao falar dos membros de seu primeiro grupo base, diz:”Quando não saiamos a tomar um café, íamos ao boliche ou ao cinema. Eram pessoas de trinta ou quarenta anos e a mim parecia-me velhos demais. Sentia-me envergonhada se meus companheiros me vissem com eles; porém, a minha sobriedade tinha que ser mais importante que a minha vida social”.
 
Hoje em dia acredita que é preciso que os recém-chegados também se disponham a estender a mão para que outros mais antigos possam conduzi-los. Quando ela alcançou a sobriedade, seu pai era membro de A.A. e sua mãe frequentava Al-Anon. Constatou que outros jovens de sua mesma idade que estão em busca de sobriedade têm com frequência o pai ou a mãe em recuperação.
 
Embora tivesse apenas 14 anos ao chegar em A.A., disse ter longa experiência em bebedeiras. Inevitavelmente percebe que há muitos aspectos nas historias dos membros de maior idade que são muito diferentes dos seus. Ela nunca perdeu um lar ou destruiu um casamento. Os membros de seu Grupo base lhe sugeriram que se identificasse com os sentimentos, o qual, ela disse, não supôs nenhum problema. “Pude me identificar completamente, totalmente”.
 
Sal B., que alcançou a sobriedade faz 11 anos, quando tinha 19 anos de idade, lembra-se de ir às reuniões com sua avó desde a idade de sete anos. “Estava encantada. Íamos aos jogos, às corridas de cavalos, a restaurantes com membros de A.A.. Eram como uma grande família”.Porém, não recebia informação principalmente quanto a recuperação. “Ouvia todas aquelas histórias e pensava no quanto queria ser maior para fazer todas aquelas coisas”. Não teve que esperar muito. Sal começou a beber aos 14 anos, e na sua curta carreira de bebedor teve vários episódios de intoxicação alcoólica, foi internado em um centro de reabilitação e foi preso por porte de drogas. “Aos 16 anos acreditava que poderia ter um problema e tentei várias maneiras de parar de beber, porém, não sei o porquê, não procurei A.A. Finalmente, depois de vários meses numa comunidade terapêutica, fui ao lugar que conheci de criança, A.A., e me conectei”
 
Sal era o mais jovem de seu Grupo base, em Nova York, conseguiu um padrinho, começou a participar e a praticar os Doze Passos.
 
Na sua visão, “agora A.A. está muito diferente, com mais gente jovem chegando, e cada vez mais jovens. A Irmandade é mais conhecida, aparece na televisão, faz parte das novelas da tevê. É mais aceitável e mais popular, e oferece melhor acolhida aos jovens”.
 
Quando Nate T. alcançou a sobriedade, faz seis anos, com a idade de 16, inicialmente “me sentia mais incômodo que antes porque eu no me encaixava em lugar nenhum”. Chegou em A.A. pela primeira vez aos 14 anos, porém, “todo mundo tinha pelo menos dez anos a mais do que eu”, e não ficou. “Continuei a me meter em problemas incluindo o ser preso por porte de drogas”.
 
Aos 16 já estava farto. “Não acreditava que fosse alcoólico, Porém sabia que tinha que estar com pessoas que estavam sóbrias. Não podia ficar com meus velhos amigos, os que bebiam e se drogavam, inclusive aqueles que não bebiam mas que não estavam em recuperação; sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria em uma reunião, uma festa onde houvesse bebidas e, seguramente, acabaria bebendo”.
 
Procurou uma reunião de jovens em Bethseda, Maryland, onde morava, “e na medida em que assistia regularmente, ia-me encontrando cada vez mais cômodo. Chegar jovem em A.A. não é um obstáculo porque a doença espiritual é tão real aos 16 anos quanto numa idade mais avançada”.
 
Sheila S. tinha 16 anos quando alcançou a sobriedade em 1981, e na sua primeira reunião“tinha pessoas que me conheciam de toda a vida, vizinhos que me conheciam desde que eu era bebê. Senti-me bem-vinda. Foi um alívio saber que havia uma razão para sentir-me como me sentia e fazer o que fazia”. Passaram-se dois anos antes de encontrar alguém de sua idade. “o que mais me incomodava era ouvir alguém dizer ‘eu jogava fora (dar para o santo), mais do que você bebi’. Meu fundo de poço sofria de falta de credibilidade apenas pelo fato de ser mais jovem”.
 
Porém, foi bem aceita pelas mulheres do seu Grupo base e isso foi crucial porque, “não podia estar com as pessoas da minha idade com que tinha bebido”. Ela mora numa cidade universitária da Flórida e diz que, “hoje em dia A.A. está mais acessível e mais aceitável pelos jovens. Eles podem chegar e conseguir a ajuda que precisam e por ser mais numerosos sentem-se mais cômodos. Os problemas quando se tem 16 anos são muito diferentes daqueles que já têm 30 anos”.
 
Lizz H. começou a beber com a idade de nove anos e alcançou a sobriedade cinco anos mais tarde, ou seja, aos 14 anos. Agora sóbria há 12 anos, diz que em seus anos de bebedora, sentia-se com frequência terrivelmente sozinha. “Não há muitas crianças no quinto ano do ensino fundamental que colocam vodca na garrafinha de suco que levam para a escola” disse Lizz, que passou os dois primeiros anos de sobriedade numa instituição de tratamento para meninas. Seu maior problema quando assistia às reuniões de A.A. na Califórnia, seu Estado de origem, era que não a levavam muito a sério como alcoólica. Embora sua história inclui-se ter bebido muito, internação por alcoolismo e quatro prisões – incluindo duas por porte de drogas, “passou muito tempo antes que as pessoas me aceitassem realmente como membro do Grupo. Mantive minha sobriedade durante dois anos por despeito”.
 
Inclusive a relação madrinha-afilhada ficou comprometida devido à diferença de idades. Ao invés de ser tratada como uma afilhada normal recebia um tratamento maternal. Atualmente, quando seus conselhos são solicitados quando é preciso falar com adolescentes recém-chegados sua resposta é que, “todos somos alcoólicos, todos temos a mesma doença e que a mensagem de A.A. não deve ser adaptada por questões de idade ou demográficas”.
 
La recuperação é para aqueles que a desejam e muitos adolescentes não querem saber nada que diga respeito a A.A.
 
John P. tem 18 anos e esteve bebendo menos de dois anos. Entretanto, nesse curto período de tempo, por duas vezes foi encontrado pela policia caído e desacordado em lugares públicos e levado ao hospital. A primeira vez foi na estação subterrânea de Times Square, em Nova York, no meio da noite. Também foi preso duas vezes, uma delas por porte de drogas.
 
Os pais de John são membros de A.A. e ele conhece as reuniões desde que era uma criança. Entretanto, ao considerar o que significaria deixar de beber em A.A., ele diz: “Acredito que se eu fosse para A.A. e me mantiver sóbrio, terei que deixar de fazer parte do meu círculo social. Indo para A.A. terei que mudar as coisas que valorizo. Teria que decidir que, ir à casa de um amigo para passar o tempo e talvez tomar uns tragos, é algo que não merece a pena. Teria que ver alguma coisa em A.A., alguma coisa que fosse mais importante”.
 
Para o bebedor problema jovem, a Conferência de Serviços Gerais produziu literatura dirigida aos alcoólicos jovens.
 
Os Grupos de A.A. para Jovens começaram a aparecer em 1945 em Los Angeles, Cleveland e Filadélfia e atualmente podem ser encontrados no país todo (EUA/Canadá). Em 1957, um grupo de membros jovens de A.A. dos EUA e Canadá iniciou a Conferência Internacional de Jovens em A.A. (ICYPAA – International Conference Young People in A.A.) (*) para oferecer uma oportunidade anual de celebração da sobriedade dos jovens em A.A. Neste mês de setembro (2007), foi celebrada a 49ª conferência anual.
 
(*) Para entender melhor:
 
O alcoolismo não tem barreiras, idade incluída. Jovens que sofrem de alcoolismo têm se voltado para os Alcoólicos Anônimos e encontraram ajuda lá desde os primórdios de AA. Em 1945, um dos primeiros grupos de jovens em Alcoólicos Anônimos foi formado em Los Angeles para ajudar a levar a mensagem de recuperação para outros jovens.  
 
O número de jovens que sofrem de alcoolismo, que procuram A.A. pedindo ajuda, continua a crescer. Na convenção de A.A. em 1960, Bill W. observou que a idade de novos membros era muito menor em 1960 do que quando ele e Dr. Bob fundaram a Irmandade 25 anos antes. Uma pesquisa interna feita com membros de A.A. em 2007 relatou que 11,3% dos entrevistados tinham menos de 30 anos de idade e desses 2,3% tinham menos de 21 anos de idade.
 
O objetivo dos grupos de jovens é ajudar os recém-chegados a entender que eles não precisam de anos de experiência no sofrimento causado pelo uso da bebida e de perdas familiares sociais e financeiras, para estar prontos para a sobriedade. Eles ajudam a trazer os recém-chegados para o ciclo da Recuperação, Unidade e Serviço através dos 12 Passos, 12 Tradições e 12 Conceitos para o Serviço Mundial, levando a mensagem de AA ao alcoólico que ainda sofre.
 

Grupos de jovens não são uma organização separada de Alcoólicos Anônimos como um todo.  Seus membros estão envolvidos e comprometidos com o trabalho do Décimo Segundo Passo em hospitais, instituições penais e de tratamento, Informação Pública, de Serviços Gerais, e todas as outras facetas de Serviço AA. Os recém-chegados são apresentados a pessoas da sua idade que os iniciam nos de princípios de AA em suas vidas diárias e os motivam a se envolver no serviço de A.A. que pode levar a uma sobriedade duradoura e confortável.

O propósito dos grupos de jovens, é levar a mensagem de Alcoólicos Anônimos para outros alcoólicos, não importa qual seja sua idade.
 
Estes Grupos de Jovens são conhecidos nos EUA e Canadá, onde se originaram em 1945, pela sigla YPAA, de Young People in A.A., ou, Jovens em A.A. e uma de suas principais atividades é a de organizar encontros em forma de seminários, fóruns e conferências, de âmbito setorial, regional, nacional e internacional cujos programas enfocam o compartilhar de assuntos relativos a tais Reuniões nos respectivos Grupos. Este movimento, que constitui parte integrante da Irmandade, ultrapassou as fronteiras de sua origem e atualmente encontram-se Grupos YPAA espalhados por países, além dos EUA e Canadá, como México, Austrália, África do Sul, Índia, Alemanha, Suécia, Dinamarca, Holanda, França, Inglaterra, Escócia, Irlanda, etc.
 
No Brasil, um grupo de pessoas composto por membros e amigos de A.A. preocupados com o pequeno número de jovens que chegam em nossas salas, foi buscar subsídios e informações a respeito desse movimento de Jovens para poder instalar em nosso país esse tipo de reunião. Numa reunião realizada no dia 15/10/2011 em Petrópolis, RJ, decidiram criar duas reuniões experimentais, uma na Cidade do Rio de Janeiro e outra em Petrópolis. Prometem resultados.
Leia também o artigo “A Conferência Internacional de Jovens em A.A” nesta coletânea, ou,“ICYPAA – casi cinco décadas de alcanzar a los jóvenes alcohólicos” no endereço