A depressão chegou, paralisante. O que ela fez? Com dificuldade, voltou-se para os Passos. O Primeiro, o Décimo Primeiro. A vida voltou a ter sentido.
Para mim, o programa de A.A. vai se revelando fonte inesgotável de motivação para procurar construir uma vida de qualidade. Há dois meses, passei por um período de depressão (causado por fofoca no local de trabalho), e eu de novo me vi reagindo à negatividade com mais negatividade. Comecei a duvidar de coisas que remontam à história da maçã, perdi a fé em mim, comecei a me questionar: por quê? Para quê? O que faço? O que digo? O que fiz? Vale a pena? Ataques depressivos são coisas duras, não há jeito de sair deles pela força de vontade apenas. Ah, essa nossa tão comentada força de vontade… ela serve apenas quando se enxerga o caminho.
O jeito que eu descobri para encurtar a duração dessa sofrida imobilização, que para mim é o que significa depressão , foi entregar-me. De novo, como no início, como sempre. Só que isso nunca foi fácil, muito menos quando mais se precisa. Não adianta querer entregar, o que resolve é entregar. Como dizem os amigos de Bill que falam inglês: “Let go ant let God”.
Assim, lá fui eu sofrendo adiante, querendo entregar tudo a Deus, mas não conseguindo me livrar de minha vontade de sofrer, de fazer o papel de vítima, de coitadinha indefesa. Arre, hábitos emocionais de uma vida inteira! E, desse jeito, eu só conseguia realizar tarefas mecânicas, não podia intuir, produzir, criar. A energia estava bloqueada pela tristeza.
O que me salvou nessa situação foi a mesma coisa que tem me salvado desde que enfiei o nariz no primeiro livro do programa de A.A.: lembrar-me dos Passos. Em qualquer situação que se revele difícil demais, eu preciso sempre de novo começar com o Primeiro Passo. Reconhecer que eu sou impotente perante o álcool e perante um bilhão de outras substâncias, pessoas, circunstâncias, etc. Eu só posso modificar a mim, e que trabalheira! Muitas e muitas coisas eu não posso modificar; algumas até que posso. Mas a mim eu posso, se quero. Se quero e se entrego ao meu Poder Superior.
A depressão aparece justamente em situações de crise, nas quais eu teimo em não querer aceitar os fatos que a vida me apresenta. Eu não quero aceitar que a realidade é real porque ela me dói, eu quero que a realidade mude. Ora, isso é conversa de bêbada. O conflito e a confusão se instalam dentro de mim, porque a mensagem que me passam é ambígua ou perversa, mas isso não me capacita a mudar esse fato. Preciso aceitar que esse fato existe. Só daí posso partir para a ação.
Confusa e cheia de conflitos, paro de dialogar com meu Poder Superior, e literalmente perco as forças. Se consigo recuar um pouquinho do meu poço emocional de baixa autoestima, ganho certa perspectiva, vou deixando a afobação e devagarinho “caindo na real”.
Na minha experiência, só chego ao Décimo Primeiro Passo se estou mais ou menos em dia com a minha aceitação do Primeiro. Só consigo usufruir da energia cósmica que está à disposição de todos nós, se largo de minha amarração ao meu falso-eu, meu falso-égo. Este falso-égo é aquele construído pelas defesas asfixiantes que me ajudaram a sobreviver em tempos difíceis, mas que agora só me impedem de viver bem. O Décimo Primeiro Passo me liga com a energia que é inesgotável, com a tomada que sempre acende a luz. O Poder Superior sempre fará por mim o que eu não sou capaz de fazer – desde que eu não atrapalhe. O pior é que eu atrapalho. Fecho-me em ressentimentos, mágoas, auto piedade, gasto toda a minha energia em lamentações. Pronto, bloqueio a energia, bloqueio a luz. A tristeza é a maior barreira à energia espiritual.
Pois é, fui saindo da minha depressão quando comecei a rir de minha cara de boboca, levando a sério palavras fúteis que nada tinham a ver comigo, mas muito tinham a ver com quem as falara. Agradeci a Deus por estar viva, sem beber, só por hoje, na companhia de tantas pessoas queridas, e dei uma boa risada. Click! Acendeu-se a luz de novo.
Voltei a entrar em contato com o Poder Superior, tive consciência de um plano bom para toda a criação, da qual eu faço parte.
A mesma energia amorosa a nós todos sustenta e ampara sempre que procuramos inserir a nossa busca de felicidade pessoal dentro de um quadro de felicidade para toda a criação. Pronto, voltei a enxergar a vida com alegria, com sentido, em boa companhia.
Muito obrigada ao A.A. por mais esta ressurreição!
Vivência nº 38 – Novembro/Dezembro 1995